Duelo à sombra

 

Fotografia: Pessanha Photography | Texto: Hugo Rocha Pereira

 

Pedro Boonman e João Kopke são dois valores seguros da actual geração do surf português que, embora não descurando a vertente competitiva, se destacam mais no free surf. Os dois atletas da Linha de Cascais são rostos conhecidos dos line ups jagozes, principalmente naqueles dias em que o mar está de gala, o que foi algo frequente durante o primeiro mês de 2017.

Ambos partilharam uma das sessões mais memoráveis de Janeiro, mais precisamente no dia 21, em que os tubos (perfeitos e com dimensões assinaláveis) foram o prato do dia. Tendo como ponto de partida dois fantásticos registos de João Pessanha, desafiámos Boonman e Kopke a relembrar essa manhã clássica de surf e as ondas feitas por cada um deles, em discurso directo ao assunto.

 

Pedro Boonman

Boonman à larga e com o fotógrafo Luís Bento em segundo plano.

Boonman à larga e com o fotógrafo Luís Bento em segundo plano.

 

“Foram dois dias em grande na Pedra, e esta foto foi no segundo dia, um dia de crowd normal mas com muito bom ambiente, com os bodyboarders a dominarem o pico. Lembro-me perfeitamente desta foto, foi uma onda de set que apareceu mais a Norte: a malta estava toda mais no pico e tive a sorte de a apanhar porque ainda estava a remar para fora quando ela entrou. Lembro-me que não pus logo para dentro, fui em frente e de repente deu uma secção onde estavam o [João] Pessanha e o Luis [Bento] a fotografarem. Posso dizer também que foi dos dias mais frios deste Inverno.”

acho que não houve nenhuma pessoa que não fizesse um bom tubo naquela manhã perfeita

“O João Kopke é um companheiro de surfadas desde sempre. Já viajei muito com ele e é um surfista que nunca diz que não a matinais com boas condições. Como disse atrás, estavam altas ondas, acho que não houve nenhuma pessoa que não fizesse um bom tubo naquela manhã perfeita porque havia ondas para toda a gente, Não me lembro exactamente desta onda do João, mas sei que ele fez uns tubos incríveis nesta sessão!!”

 

João Kopke

Kopke acelera em direcção à saída do túnel.

Kopke acelera em direcção à saída do túnel.

 

“A sessão deste dia foi provavelmente uma das surfadas em que produzi mais material de que tenho memória. Parece que estou a vender que pesquei um peixe de 70 quilos, mas a verdade é que fiz mais filmagens e fotografias boas do que nas dez surfadas anteriores. O mar estava incrível, mas foi uma surpresa. Quando cheguei à praia, às 7:30 da manhã, faziam 4 ou 5 graus. Frio, mas menos frio que no dia anterior, o que fez com que mais gente decidisse sair da cama e tomar o pequeno-almoço ao nascer do Sol. Também estava (ou parecia estar) mais pequeno do que no dia anterior. Ou seja, bom, mas não assim tão bom. Mas o mar subiu e as pessoas foram trabalhar… Acabei por poder partilhar as ondas incríveis que não paravam de entrar com o Pedro Boonman e mais três ou quatro amigos locais e acho que podemos todos dizer que estava de gala.”

Os tubos, ao contrário do que é normal, não estavam só na primeira secção

“Os tubos, ao contrário do que é normal, não estavam só na primeira secção e, por isso, era preciso bombar dentro das ondas. É precisamente isso que estou a fazer na minha foto. Ao contrário da fotografia do Pedro, que está numa posição mais nobre e relaxada dentro do tubo, a minha onda pedia que eu acelerasse ou então não iria sair e corria o risco de fazer uma visita à pedra… que é branca!”