Obra: Doso
Doso (nome artístico de José Rodrigues Cardoso) encontra-se entre os criadores que terão obras suas na quarta edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia.
Este evento, que arranca já amanhã e se prolonga até 10 de Julho, é organizado pela Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural, CRL, com o apoio da Câmara Municipal de Gaia.
A partir de Sábado, dia 17 de Abril, três pavilhões da antiga Companhia de Fiação de Crestuma, em Lever, acolherão trabalhos de centenas de artistas, entre os quais se encontra este residente na Ericeira.
Ao longo de cerca de seis mil metros quadrados desenrolar-se-á a maior edição de sempre desta bienal, de acordo com o respectivo coordenador, Agostinho Santos – o que acaba por ser uma forma de contornar as limitações impostas pela actual pandemia da Covid-19.
No âmbito da sua participação neste certame, Doso partilhou com a AZUL algumas informações sobre a sua relação com a arte:
Como surgiu a pintura na sua vida?
Quando entrei na escola tive uma professora que me obrigou a escrever com a mão direita, sendo eu esquerdino. Julgo que não fiquei com nenhum problema por causa desse horrível gesto, mas a verdade é que a minha caligrafia sempre foi má e, nas aulas de educação visual, era dos piores. Hoje, escrever é das poucas coisas que faço com a mão direita. Por exemplo, como como um esquerdino.
Ora, este facto não impediu que olhasse para as artes plásticas com a mesma admiração enorme com que sempre olhei para a música, para a literatura. Na verdade admirava ainda mais as coisas que eu via serem feitas por artistas plásticos.Todavia, ao contrário da música e da literatura, nem por brincadeira a praticava. Até que, relativamente há pouco tempo, decidi concentrar-me e educar a minha observação, disciplinar o meu traço e fui praticando e ganhando prazer. Foi um processo que, tal como os processos de superação, custou muito mas gratificou mais. Decidi não recorrer a aulas nem tutoriais e, portanto, considero-me um verdadeiro autodidacta. Lentamente fui progredindo tecnicamente, com vista a atingir o meu único objectivo de há anos: libertar para o papel e para a tela as imagens que tenho na minha cabeça. O processo, digamos, foi o de inicialmente observar e procurar representar o exterior que vejo – mais realista, mais figurativo e representativo – para que agora consiga, mais facilmente, representar as imagens que formo na minha mente, a respeito da realidade que me rodeia e das narrativas que me são sugeridas.
Sou a prova de que um tipo com má letra e a desenhar mal pode sentir um profundo prazer na liberdade de criar, desenhando e pintando.
considero-me um verdadeiro autodidacta
Quanto tempo dedica à pintura?
Muito. Produzo bastante e diariamente. É a primeira coisa que faço, assim que acordo, e a última antes de me deitar. Faço-o em qualquer lugar. Hoje, por exemplo, fui para a praia. Já aconteceu colocar o alarme para me levantar mais cedo e poder desenhar antes de iniciar o meu dia, nas tarefas convencionais.