Fotografia: DR
Durante o período de 1 a 12 de Outubro de 2022, a expedição Oceano Azul — Cascais, Mafra e Sintra, promovida por cada um dos municípios em colaboração com a Fundação Oceano Azul, obteve resultados bastante relevantes nas águas que banham a região do Cabo da Roca. O relatório científico da expedição revela a presença de espécies marinhas que, segundo a Agência Lusa, apontam o potencial para a formação de “jardins de corais” e de esponjas, destacando a importância ecológica e a necessidade de protecção destes habitats.
A zona do Cabo da Roca já se encontra protegida pela convenção OSPAR (convenção marinha regional cujo objectivo é a protecção do meio marinho Atlântico) e pela legislação portuguesa. Entre as espécies que poderão contribuir para a formação de”jardins de corais” e de esponjas destacam-se as gorgónias, especialmente a Eunicella verrucosa, classificada como uma espécie vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), e a Leptogorgia s.
foram identificadas 56 espécies de peixes nas comunidades de macrofauna marinha demersal e bentónica
Adicionalmente, ainda segundo o documento avançado pela Lusa, foram registadas aglomerações de esponjas, como a Cliona celata, que forma verdadeiros “jardins de esponjas”, um fenómeno também reconhecido pela convenção OSPAR.
A expedição utilizou tecnologia avançada para explorar as espécies que habitam a coluna de água e o fundo do mar. Aparelhos especializados, conhecidos como BRUVs (Baited Remote Underwater Video), foram operados a partir de embarcações de pesca profissional. Estes dispositivos foram estrategicamente posicionados em 107 pontos ao longo da costa, desde Ericeira até Cascais, incluindo a Montanha de Camões.
Os resultados revelaram uma riqueza específica notável, com a identificação de 56 espécies de peixes nas comunidades de macrofauna marinha demersal e bentónica. Entre as espécies mais frequentes estão a garoupa, o sargo-safia e o carapau, predominantemente encontrados em substractos rochosos. Destacam-se, ainda, espécies classificadas pela IUCN, como a raia (Raja clavata), uma espécie “quase ameaçada” e o cação (Mustelus mustelus), considerado “em perigo”, realçando a importância ecológica e a necessidade de preservação destas populações.
O relatório confirma que, de uma forma geral, a diversidade específica da Montanha de Camões é notavelmente superior à dos sectores costeiros do Norte, Centro e Sul.
caracterização do ambiente pelágico foi conduzida com recurso a BRUVs que se deslocaram com as correntes
Entre as 10 espécies com maior biomassa na área de estudo, destacam-se aquelas que formam cardumes, tais como o atum (duas espécies), lírio, carapau, sargo, canário-do-mar e judia, além de alguns predadores de topo, demersais e bentónicos com hábitos solitários, como Conger conger, Scyliorhinus canicula e Serranus cabrilla.
No que diz respeito aos invertebrados, foram identificadas espécies de grande interesse económico, como a navalheira, o polvo-comum, o choco e a lula (Loligo vulgaris).
A caracterização do ambiente pelágico foi conduzida com recurso a BRUVs que se deslocaram com as correntes, resultando no registo de 330 indivíduos pertencentes a nove espécies. Essas incluem o golfinho comum, o carapau, o biqueirão, a sarda, duas espécies de atuns, um crustáceo decápode e o tubarão azul.
A expedição identificou cinco habitats prioritários para protecção – ou seja, crucial para garantir a preservação da biodiversidade marinha -, conforme a Directiva Europeia Habitats, a Convenção OSPAR e a legislação nacional. Esses habitats incluem “Recifes de Sabellaria”, “Florestas de Laminárias”, “Comunidades mistas de esponjas e corais”, “Comunidades mistas de esponjas e gorgónias” e “Jardins de gorgónias”.
os municípios e a Fundação Oceano Azul estão empenhados em promover a conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos
A expedição Oceano Azul — Cascais, Mafra e Sintra faz parte do processo de apoio à criação de uma Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária. Os municípios e a Fundação Oceano Azul estão empenhados em promover a conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos, baseados nas descobertas científicas desta expedição pioneira.
A Área Marinha de Cascais, Mafra e Sintra revelou-se uma região de uma biodiversidade extraordinária, destacando-se a necessidade de medidas de protecção e conservação. A criação de uma Área Marinha Protegida não só preservará os “jardins de corais” e habitats associados, mas contribuirá também para o entendimento ecológico e científico contínuo dessa região marinha ímpar.