Assinala-se hoje o centenário do Mestre José Franco

 

Fotografia: DR

 

Hoje é o dia do primeiro centenário do Mestre José Franco, nascido a 1920 e falecido em 2009.

Estava previsto que a data fosse evocada na Aldeia-Museu com o seu nome, localizada no Sobreiro (a partir das  17:30 a vida e legado do consagrado oleiro português seriam relembrados através do lançamento do livro “Mestre José Franco – o Homem e a Obra” e dum apontamento musical pelo acordeonista Tino Costa), porém a actual pandemia do Coronavírus (Covid-19) terá levado ao cancelamento destas celebrações.

Oleiro, ceramista e escultor, José Silos Franco nasceu no Sobreiro a 19 de Março de 1920, vindo a falecer em Lisboa a 14 de Abril de 2009.

Filho de pais humildes, oleiros de profissão, teve quinze irmãos. A família produzia cerâmica utilitária, comercializada na região: pratos, travessas, jarros para água e para vinho, vasos para flores e pequenas peças de decoração. Ainda jovem, José Franco também começou a produzir e a vender à porta da sua pequena olaria e nas festas populares e feiras da região, transportando-as no lombo de um burro.

Veio a ser condecorado pelo então presidente da República, Ramalho Eanes com a comenda de cavaleiro de São Tiago.

Considerado um benemérito da comunidade, permitia a entrada gratuita na sua aldeia-museu, tradição que se manteve depois do seu falecimento, em 2009.

Jose Franco – ph. DR

José Franco dedicou-se principalmente à arte-sacra, sendo por isso conhecido em todo o mundo, podendo encontrar-se obras da sua autoria inclusivamente no Vaticano. No entanto, a sua obra mais conhecida e popular será a Aldeia típica de José Franco, construção em miniatura de uma aldeia saloia do início do século XX, onde podem ser apreciadas cenas da vida da época, realizadas por bonecos mecanizados, principalmente movidos a água, bem como, lojas em miniatura que ilustram as mais diversas profissões, muitas delas, hoje em dia, completamente abandonadas.

o escritor brasileiro Jorge Amado visitava José Franco sempre que se deslocava a Portugal

Segundo Zélia Gattai na sua autobiografia, Jorge Amado conheceu José Franco, quando visitou a aldeia típica na companhia de Beatriz Costa e Francisco Lyon de Castro nos fins dos anos 60, tornando-se grandes amigos a partir daí. Jorge Amado visitava José Franco, a quem chamava “queridinho”, sempre que se deslocava a Portugal e a sua casa em Salvador é decorada com peças do artista português.

Entre outras distinções, José Franco foi agraciado com o título de comendador pelo ex-Presidente da República, general Ramalho Eanes, foi-lhe atribuído o prémio na categoria de Arte pelo Rotary Club e foi ainda abençoado pelo Papa João Paulo II.


Veja aqui os programas “Um Dia Com… José Franco” e “Sabe quem é José Franco?”, emitidos originalmente na RTP1.


A Aldeia-Museu José Franco (Aldeia Típica de José Franco, Aldeia Típica do Sobreiro ou simplesmente Aldeia Saloia), onde vai esta tarde decorrer a homenagem, é uma das mais reconhecidas aldeias musealizadas do país.

A história da pequena aldeia remonta ao nascimento do oleiro José Franco, em 1920. Sendo o Sobreiro um importante centro oleiro, desde cedo José Franco conviveu com o ofício e, ainda criança, ao deixar a escola primária, aprendeu o ofício com dois mestres oleiros locais, antes de trabalhar por conta própria, aos 17 anos de idade. Nessa época, reabilitou a olaria que tinha pertencido ao avô, há muito desactivada.

Em início dos anos 60, José Franco deu asas a um sonho, de recriar uma aldeia de carácter etnográfico, onde as suas memórias de infância se cristalizassem, testemunho do modo de viver das gentes locais, em homenagem à sua terra. A sua aldeia teria dois componentes: seria uma réplica das antigas oficinas e lojas, dos espaços vividos, decorados e apetrechados por objectos reais, onde se reproduziam os costumes e actividades laborais intrínsecas à sua infância e à vida camponesa da região de Mafra; em simultâneo, a aldeia compreendia uma área lúdica, dedicada às crianças, repleta de miniaturas de casas e habitantes que retratavam as actividades exercidas à época: trabalhos no campo, carpintarias, moinhos de vento, capelas, mercearias, escolas, adegas, camponeses e até uma reprodução da vila piscatória da Ericeira e dos ofícios ligados ao mar. Em anos posteriores, a Aldeia-Museu foi beneficiada pela construção de uma terceira área, murada como um castelo, com um parque-infantil, incorporando alguns engenhos agrícolas, que as crianças podiam movimentar livremente.

na Aldeia de José Franco cabe a dedicação de uma vida à nobre actividade tradicional da olaria

O pequeno mundo moldado pelas mãos de José Franco continua a ser visitado anualmente por milhares de pessoas. E, para além da exposição das figuras, no museu que lhe foi dedicado, os visitantes encontram réplicas à escala humana de muralhas de castelos, moinhos de vento, um parque infantil, uma pequena adega onde podem provar o vinho da região ou ainda a padaria, onde podem comprar o afamado pão com chouriço, entre outros. Na Aldeia de José Franco cabe a dedicação de uma vida à nobre actividade tradicional da olaria, expondo ainda a rica cultura artesanal do Concelho de Mafra.