Fotografia: DR
Bilhete de Identidade
Samantha Germano Menpes Smith (‘Sam’ para os sô’primos)
Nascida a 10 de Março de 2000 (19 anos) no Hospital Amadora-Sintra (mas assim que a minha mãe teve alta foi a correr para a Ericeira)
Estudante e Fundadora da Ocean Hope
A Ericeira é onde me sinto completa, com paz de espírito e verdadeiramente feliz
A Ericeira é a minha casa. É o sítio onde me sinto completa, com paz de espírito e verdadeiramente feliz.
O que mais ama e menos gosta na Ericeira?
O que eu mais amo na Ericeira é o mar. Fui privilegiada ao crescer tão perto do mar e, desde pequena, sinto uma grande ligação com ele: se quero pensar, se quero estar fora de casa e se me quero isolar, é até ao mar que vou e, para mim, o mar da Ericeira é especial. Penso que aquilo que menos gosto na Ericeira é, talvez, a mentalidade e o comportamento de algumas pessoas no que toca à vinda de pessoas de fora e que querem conhecer o sítio. Contudo, são somente casualidades e, na sua grande maioria, as pessoas são simpáticas e humildes e uma grande razão pela qual gosto tanto da Ericeira.
O turismo e a alta concentração de população preocupam-me
Quais são as suas principais preocupações no presente e para o futuro da Ericeira?
O turismo e a alta concentração de população preocupam-me. Uma vez que cresci na Ericeira, noto cada vez mais um grande fluxo de turistas, pessoas que vêm conhecer a nossa vila… e não existe problema nenhum nisso! Como qualquer outro sítio no mundo, a nossa vila cheia de encanto merece esta atenção. Contudo, até que ponto é que estamos preparados para este movimento? E de que forma é que isto será sustentável? Para pessoas que moram há anos na Ericeira, vêm uma vila tipicamente piscatória a ser transformada em algo comercial: casas transformadas em surf camps, rendas a aumentar, escolas de surf a nascer a cada segundo… uma vila que outrora tinha personalidade, tornou-se num sítio que simplesmente procura estar de encontro com a necessidade dos turistas – que estão presentes na época alta e, cada vez mais, na época baixa também – e não das pessoas que estão cá o ano inteiro. Acho que o turismo é um sector fundamental na Ericeira, porém, também acho que deve haver uma preocupação acrescida em tornar este sector sustentável e viável para aqueles que cá moram.
um Jagoz tem o espírito assente na Ericeira
O que é ser Jagoz?
Acho que a definição de Jagoz muda muito de pessoa para pessoa: penso que às vezes temos que riscar uma lista de qualificações para termos o privilégio de ser considerados Jagozes por outros Jagozes. Contudo, acho que um Jagoz é aquele que – para além de ter raízes na Ericeira – tem o espírito assente na Ericeira: assim que mete o pé na Ericeira, respira mais calmamente porque sabe que está em casa.
Considera-se Jagoza?
Curiosamente, dentro da minha família digo na brincadeira que sou a Jagoza da casa, dado que mais ninguém dela nasceu e cresceu na Ericeira. Gostam de se meter comigo quando elevo a minha voz e dizem sempre “Ah, é porque é Jagoza”. Porém, apenas morei perto da vila até aos meus três anos e, depois disso, apesar de morar apenas a 7 minutos da vila, nunca me auto-identifiquei como Jagoza: não por não querer, mas simplesmente porque não me identifico com nenhum local ou nacionalidade; penso que esta ideologia venha do facto de ter dupla nacionalidade. Se os portugueses me chamam inglesa, os ingleses chamam-me portuguesa e, desde pequena, nunca me consegui conformar com uma só cultura, nem com um só local. Sou rodeada por diferentes pessoas e, apesar de ter crescido na Ericeira e sentir que é a minha casa, acho que me vou moldando um pouco com tudo o que passa por mim e me toca: se a definição de ser Jagoza é simplesmente por ter crescido e ser do local, então sim, sou Jagoza; se a definição de ser Jagoza é sentir um grande orgulho na Ericeira, saber que não há ar mais puro que aquele com o cheiro de maresia, acordar e ser feliz por saber que o mar mais azul está à porta de casa, então, sim, sou Jagoza; agora, se ser Jagoza para alguns é conhecer todas as ruelas e tudo o que se passa na vila, então, lamento, mas sou mesmo terrível com direcções!