Texto: Ricardo Miguel Vieira | Fotografia: Gonçalo Osório
O som de Nery é multifacetado. É um autêntico rendilhado de composições provenientes dos mais diversos espectros sonoros admirados pelo DJ e produtor actualmente sediado na Ericeira e que são por este unidos sob um manto de beats complexos e atraentes.
33, recentemente editado pela Madluv Records e sobre o qual nos falou há dias, é o primeiro projecto de assinatura pessoal do artista de nome próprio João Nery. Editado nos formatos vinil de 12 polegadas e digital, trata-se de um disco de 11 faixas (12, se contarmos com “Paris”, um exclusivo digital) que encapsula os 15 anos de carreira de Nery enquanto DJ, produtor, turntablist e, porque não, companheiro de banda, numa viagem pela memória que nos conduz por territórios como o do nu soul, hip-hop e electrónica de traço left field.
Procurando aprofundar a relação que Nery nutre com os mais díspares géneros musicais que dão corpo à sua arte, a AZUL desafiou o produtor natural de Lisboa a partilhar uma mão cheia de músicas que marcaram, de algum modo, a sua vida e carreira. Os comentários às faixas são do próprio e levantam o véu sobre o lugar que estas ocupam na sua arte.
Flying Lotus – “Tea Leaf Dancers”
“Flying Lotus é um dos artistas que mais me inspira. Este foi o primeiro tema dele que ouvi. Foi como estar diante de uma porta para um universo cheio de traduções daquilo que é o meu universo enquanto produtor.”
Goldie – “Inner City Life”
“Se bem que já ouvia drum ‘n’ bass antes de descobrir, por exemplo, 4Hero ou Amon Tobin, foi o Goldie (e talvez este tema) quem despertou em mim a curiosidade de passar de ouvinte a DJ.”
Shigeto – “Detroit Part 1”
“A par de Flying Lotus e outros artistas, o Shigeto é uma das minhas maiores influências na música que produzo. “Detroit Part 1” faz parte de um disco incrível chamado No Better Time Than Now e continua a ser um dos meus temas favoritos de sempre.”
Steve Coleman and Five Elements – “I’m Burnin’ Up (Fire Theme)”
“Se Curves of Life não foi o primeiro LP em que senti o que é o hip hop, então anda lá perto. Sendo o jazz uma das minhas bases/influências mais intensas, foi também com ele que descobri o que é o hip hop. O tema “I’m Burnin’ Up (Fire Theme)” é um marco não só na minha carreira como na minha vida. Ainda hoje procuro pelo Curves of Life sempre que preciso de inspiração, exactamente por ser tão ‘à frente’.”
Tim Hecker – “Borderlands”
“An Imaginary Country é o LP em que este tema está inserido. Escolhi-o porque foi o primeiro tema de Tim Hecker que ouvi. Para quem não sabe, eu sou um eterno apaixonado por música electrónica experimental e se há algum disco que consegue descrever quem sou, é este.”
