«Temos tido mais cancelamentos de estrangeiros e maior procura pelos turistas portugueses»

 

Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografia: Pedro Mestre

 

A actual crise sanitária provocada pelo novo Coronavírus, causador da doença Covid-19, tem apresentado consequências nefastas a vários níveis: a saúde vem primeiro lugar, mas logo a seguir está a economia, que se reflecte nas condições de vida das pessoas, cujas perspectivas não são positivas, seja pelo aumento do desemprego ou diminuição dos rendimentos.

Como sabemos, o sector do Turismo (“apenas” a maior actividade económica exportadora de Portugal, tendo sido no ano passado responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais – em 2019 as receitas turísticas registaram um contributo de 8,7% para o PIB nacional) tem sido um dos mais afectados pela pandemia ao nível global.

Com este contexto bem presente – e tendo em conta o peso do turismo não só no nosso país como, particularmente, na Ericeira e no Concelho de Mafra – fomos falar com quem está no terreno. Se a vocação da agência A Casa das Viagens é proporcionar experiências positivas às pessoas em trânsito entre Portugal e o estrangeiro, de que forma têm vivido estes tempos tão desafiadores? Sara Fernandes, consultora de viagens há mais de 20 anos e responsável pela loja da Ericeira, responde e esclarece algumas das questões mais prementes deste panorama.

 

Como é que A Casa das Viagens viveu o período mais agudo desta pandemia, durante o qual praticamente todos os aviões estiveram em terra?

Foi um período muito agitado. Mesmo com a aviação parada, tivemos que gerir todos os cancelamentos, repatriar os passageiros que tínhamos fora e ajudar tantos outros que, não sendo nossos clientes, nos pediram ajuda para o regresso a Portugal. Dar assistência aos nossos clientes para esclarecer as viagens futuras, quais as hipóteses que os clientes tinham a nível de alterações ou cancelamentos, dar a nossa opinião e o nosso apoio para tudo aquilo que nos fosse solicitado – estivemos sempre contactáveis.

o Turismo e as agências de viagens vão precisar de mais medidas de apoio

A vossa empresa recorreu ao Lay-Off ou a outras medidas de apoio? Consideram as medidas adoptadas pelo Governo suficientes e adequadas, no que toca aos sectores das agências de viagem (em particular) e do turismo, em geral?

A nossa empresa não recorreu ao Lay-Off nem a outra medida de apoio. As medidas adoptadas pelo Governo, na minha opinião, não foram, nem são, suficientes. Este é um sector que sofreu e vai sofrer muito com esta situação, sejam as agências de viagens, seja o Turismo no geral. Todas as medidas passam por endividamento das empresas. O Turismo e as agências vão precisar de mais medidas, sem dúvida.

Como está o panorama actual no que toca a reservas para viajar para Portugal e passar férias na Ericeira ou no concelho de Mafra?

Pelo facto de estarem a ser desaconselhadas viagens para Portugal, em cerca de 17 países, temos tido cada vez mais cancelamentos de estrangeiros. Temos tido, por outro lado, uma maior procura por parte de turistas portugueses, até para estadias mais longas, que pretendem “fugir” das grandes cidades.

cancelamentos de estrangeiros e maior procura pelos turistas portugueses

E relativamente a marcações de viagens e estadias de portugueses no estrangeiro a situação é idêntica?

Os portugueses estão ainda com muito receio em viajar para o estrangeiro, não sabem o que esperar. Há imensos países com obrigação de quarentena e outros que obrigam à apresentação dum teste negativo à Covid-19 realizado 72 horas antes da viagem. Caso o passageiro esteja infectado, este perde por completo o valor da passagem, pois é considerado que esse facto é da sua responsabilidade.

 

Consideram que as medidas tomadas no sector do turismo (como os selos Clean & Safe e Safe Travels) são adequadas e suficientes para transmitir confiança aos consumidores neste contexto?

Estas medidas ajudam o consumidor a decidir na altura da compra, penso que tal é adequado, atendendo à situação. Suficiente… penso que não é. De que nos vale, por exemplo, Portugal ter sido pioneiro nesta medida (Clean & Safe) e agora alguns países não recomendarem viagens para o nosso país?!

Como encaram o facto de Portugal não se encontrar na lista de destinos mais seguros no que toca às viagens dos cidadãos de vários países, tanto no que toca ao impacto na nossa região como ao restante território nacional?

Não conseguimos compreender essa decisão de alguns países: no mês passado éramos considerados dos mais seguros, enfim, acho que o mundo está muito confuso. O que é certo é que a nível de Turismo acabamos por ter de novo mais cancelamentos de turistas que viriam em Julho e Agosto, devido às restrições impostas pelo país onde residem, e o Verão era o forte, principalmente na nossa região.

Prevemos que as viagens ao exterior em turismo só começarão a ter procura mais para o final do Verão

Quais são as vossas perspectivas para o futuro, a curto e médio prazo?

Infelizmente, na nossa opinião as viagem para o exterior vão ser muito poucas, vamos focar-nos essencialmente nos alojamentos em Portugal continental e Ilhas, alojamentos locais, quintas e turismo rural. Prevemos que as viagens ao exterior em turismo só começarão a ter procura mais para Setembro, Outubro e que no próximo ano tudo vá começando a melhorar, aos poucos. Iremos ter menos oferta, quer a nível de voos charter, quer a nível de cruzeiros, redução nos voos comerciais, etc.

 

Um tema muito quente desde que o surto epidémico começou prende-se com os direitos dos consumidores no que toca a cancelamentos e remarcações de viagens, com eventual devolução dos montantes liquidados – qual é o posicionamento da Casa das Viagens nesta matéria?

Foi realmente um tema complicado, quando temos que preservar o negócio e, ao mesmo tempo, temos consciência e respeito pelo direito do consumidor. O problema prende-se essencialmente quando todos os fornecedores também não reembolsam as agências, aí é incomportável reembolsarmos os clientes. Foi um Decreto-Lei que veio salvaguardar também as agências, pois os fornecedores aí mudaram a postura dos cancelamentos, seno mais flexíveis, o que nos ajudou bastante. Mas a nossa posição foi implementada em concordância com o Decreto que estabeleceu o reembolso em vale.