Fotografia: Bosc d’Anjou
A inacabada Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, considerada uma das mais belas do mundo, tem um espólio de cerca de 30 mil obras, entre as quais uma Bula concedida pelo Papa Bento XIV em 1754. Contudo, existem outras obras que não usufruiram do grau de visibilidade e consenso social inerente à Bula Papal. É o caso do conjunto raro de livros proibidos pela Inquisição que, desde o séc. XVI, iam entrando em Portugal e que se transformavam numa dor de cabeça para a Igreja.
A SIC visitou a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e, com a ajuda do especialista em alquimia José Eduardo Medeiros, da directora do espaço, Maria Teresa Amaral, e da técnica Mafalda Nobre, tentou perceber como chegaram aos nossos dias estes exemplares de um tempo em que era quase impossível contornar a obrigatoriedade dos desígnios da fé e o cumprimento dos dogmas católicos.
Segundo Henry Charles Lea, historiador norte-americano, no período entre 1540 e 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora decretaram a morte por fogueira de 1.175 pessoas por consultarem livros como os que estão hoje na estante 49, no 1º andar, da biblioteca.
Entre os livros conservados na biblioteca está o “Livro Mudo”, uma obra totalmente ilustrada que nada dizia aos ignorantes em alquimia, mas que aos entendidos do Século XVII explicava como transformar uma gota de orvalho em ouro. Outro dos livros conservados é uma versão do Alcorão com quase 500 anos que foi descoberta recentemente e que também não escapou ao olhar inquisitório, concorrendo por exemplo com a primeira Bíblia poliglota, escrita em aramaico, hebraico, grego e latim, publicada em 1520.
Para os investigadores e técnicos que estudam a Biblioteca de Mafra, o levantamento de todo o conhecimento disponível sobre a época é uma tarefa quase interminável, mas deverá culminar com o reconhecimento oficial do espólio como Património da Humanidade.