Olha a Espiga a chegar!

Espiga 2014. - ph. Ricardo Miguel Vieira

 

Fotografia: Ricardo Miguel Vieira

 

Na Quinta-feira, dia 29 de Maio, vai celebrar-se o Dia da Espiga — feriado municipal em Mafra e noutros municípios portugueses. A tradição, que atravessa gerações, ganha vida de forma especial na Ericeira, onde o espírito comunitário se mistura com a ligação às raízes culturais.

As comemorações arrancam na véspera. A partir da tarde de Quarta-feira grupos de amigos e famílias inteiras dirigem-se para os campos, pinhais e praias da região. Locais como a Foz do Lizandro e o parque de campismo tornam-se pontos de encontro para centenas de pessoas se juntarem para montar acampamentos e preparar a festa. É altura de reservar o melhor espaço, montar as tendas e acender as fogueiras.

na Ericeira esta celebração apresenta uma mística especial

Enquanto muitos optam por passar a noite sob as estrelas, com conversas à volta da fogueira e grelhados improvisados, outros preferem chegar de manhã cedo para preparar o tradicional almoço do Dia da Espiga. À mesa não faltam sabores que fazem parte da memória colectiva, como coelho guisado com ervilhas. Tudo isto bem regado e animado por música e um ambiente descontraído.

Mas o Dia da Espiga assume também uma dimensão simbólica profunda. Celebrado na Quinta-feira da Ascensão, esta data marca, segundo a tradição popular, um momento de ligação entre o Homem e a Natureza. Logo pela manhã, segundo o costume ancestral, deve fazer-se uma caminhada pelo campo para colher o chamado “ramo da espiga”.

Este arranjo reúne espigas de trigo ou cevada (símbolos de fartura), raminhos de oliveira (associados à paz), e flores silvestres como papoilas, malmequeres e alecrim, que representam a alegria, o amor e a saúde. O ramo deve depois ser guardado atrás da porta de casa, onde permanecerá até ao Dia da Espiga do ano seguinte, funcionando como amuleto e sinal de esperança.

Antigamente, acreditava-se que o meio-dia desta jornada — conhecido como “a hora” — representava um momento místico em que tudo parava: as águas ficavam imóveis, o pão deixava de levedar e o leite não coalhava. Era nessa altura que se colhiam as ervas medicinais e as espigas. Em dias de trovoada havia até quem queimasse parte do ramo da espiga para afastar os raios.

Hoje, embora os tempos sejam outros, a essência do Dia da Espiga mantém-se viva: é uma celebração da terra, da alegria e da (re)união. E na Ericeira esta celebração ganha um sabor especial. Afinal, não é apenas um feriado mas um ritual em que se valoriza o que é essencial.