Fotografia: Márcio Barreira
Quinta-feira, 30 de Maio, é Dia de Espiga (feriado municipal em Mafra e noutros municípios portugueses) e as celebrações começam já amanhã na Ericeira, num encontro de gerações que atrai jagozes, vizinhos e visitantes.
A partir da tarde de Quarta-feira centenas de pessoas começarão a rumar às praias e aos pinhais da região (sobretudo na Foz do Lizandro, no Parque de Campismo e na Abadia, mas também noutros pontos mais ou menos populares) para montar os acampamentos com amigos e familiares – por falar nisso, já foram marcar o terreno? E os mantimentos estão prontos?!
Se muitos pernoitarão em redor das fogueiras, que aquecem e fornecem brasas para os grelhados, outros apenas chegarão na manhã do Dia de Espiga para preparar uma bela almoçarada. Entre os petiscos mais tradicionais, destaque para o coelho com ervilhas, arroz de pato ou ensopado de borrego. “O que não pode faltar é a rega vinícola, seja branca, tinta ou verde, muita alegria e boa música para dar cor à festa”, como já escreveu o jagoz César Moreira.
Tudo isto integra a celebração contemporânea duma tradição que assinala a Quinta-feira de Ascenção. Para seguir ritos antigos, tudo deveria iniciar-se pela manhã com um passeio para colher espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira (espigas de trigo ou cevada, para que não falte o pão em casa; tranquinhos de oliveira, que simboliza a paz; e raminhos de papoilas, malmequeres e alecrim que simbolizam a alegria, o amor e a vida) para formar um ramo, a que se chama de espiga. Segundo a tradição, este ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada, apenas devendo ser substituído por um novo no Dia da Espiga do ano seguinte.
O Dia da Espiga era também conhecido como o “dia da hora” e considerado “o dia mais santo do ano”, um dia em que não se devia trabalhar – era chamado o dia da hora porque havia uma hora, precisamente o meio-dia, em que tudo parava: “as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam”. Era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e também se colhiam as ervas medicinais. Em dias de trovoadas queimava-se um pouco da espiga no fogo da lareira para afastar os raios.