Fotografia: DR
As Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem começam hoje, prolongando-se até Domingo. Para assinalar a data, publicamos uma entrevista com o principal divulgador da Música Popular Portuguesa (ou MPP) nas últimas décadas: Carlos Ribeiro, que apresentou o programa Made in Portugal (além de vários outros formatos televisivos e radiofónicos), foi o anfitrião de vários concertos nas Festas de Nossa Senhora da Nazaré em 2016 e 2017 na Ericeira, onde passa boa parte do seu tempo há mais de 10 anos. Sobre estes temas e muito mais se conversa nas próximas linhas.
Quando começou e como se desenvolveu a sua ligação com a Ericeira?
Em 2005, a minha filha e o meu genro, que conheciam bem a Ericeira e vinham aqui regularmente, convidaram-me para visitar a vila e imediatamente me senti, também, atraído por ela.
Desde quando vive cá? Do que gosta mais?
Vivo entre Lisboa e a Ericeira desde 2007. Adoro a vida local e as gentes da Ericeira, o mar, as paisagens em redor e o clima moderado, principalmente, durante os meses de verão.
senti que as pessoas gostaram do meu trabalho
Mudaria alguma coisa na Ericeira? O quê, principalmente?
Ao longo destes anos, tenho observado uma evolução na vila que lhe confere uma certa alegria e melhor qualidade de vida para quem aqui habita. Pode não ser a opinião geral, mas é impossível agradar a todos…
Foi uma honra tê-lo como anfitrião de concertos nas Festas de Nossa Senhora da Nazaré – como foi a experiência de dar a cara e a voz por umas festas tão importantes para a Ericeira?
Fiquei muito sensibilizado por ter recebido o convite nesses dois anos e senti que as pessoas gostaram do meu trabalho. É uma festa alegre e bonita que junta os locais e os forasteiros numa celebração religiosa com muita importância para a Ericeira.
Este ano também podemos contar consigo como host das Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem?
Este ano não fui convidado para apresentar os espectáculos das Festas da Nossa Senhora da Boa Viagem mas, certamente, estarei presente como visitante com a minha família.
Como reage quando dizem que é o Don Letts (ndr: principal divulgador da música Reggae em Inglaterra nos anos 70) da Música Popular Portuguesa (ou MPP)?
Sem dúvida que me sinto orgulhoso quando me referem como um dos principais divulgadores da Música Popular Portuguesa. Sem esquecer outros artistas, tenho um carinho especial pela área da música popular que sempre apoiei e ajudei a descobrir desde o início dos anos 90.
A era dourada da MPP coincide com o Made in Portugal, apresentado por si. Tal como explicou no podcast “Canções a Sério”, de Miguel Arsénio, esse terá sido um caso de relação ganhadora, em que a divulgação junto do grande público impulsionou bastante a criação artística daquela época…
Já abordei esse assunto um pouco na resposta anterior e o grande impulso que posso ter dado tem a ver com o facto de ter descoberto que se os artistas populares enchiam tantos espectáculos, principalmente nas festas de Verão e nas comunidades portuguesas, também poderiam chegar à rádio e à televisão. Houve alguma resistência inicial mas o Made in Portugal e outros programas de rádio que realizei acabaram por se impor e criar um espaço digno para a música popular.
Sente especiais saudades de algo desses tempos marcantes do Made In Portugal?
Tudo tem o seu tempo e como costumo dizer “Foi bom enquanto durou”. Antes e depois dessa época tive, também, outros projectos que abordaram outros tipos de música e formatos televisivos. Desde programas infanto-juvenis, directos de grande entretenimento pelas praias portuguesas, concursos… Fui dos primeiros a fazer programas de longa duração (mais de 3 horas) e imaginem que foi como jornalista na RTP, em 1976, que iniciei a minha carreira televisiva.
se os artistas populares enchiam tantos espectáculos, também poderiam chegar à rádio e à televisão
Existem certamente alguns artistas por quem nutre especial carinho. Pode dar alguns exemplos?
Foram tantos anos ligado à MPP que se criaram boas relações de amizade com muitos deles. Toni Carreira, Emanuel, José Malhoa, José Reza, Ágata, Quim Barreiros, Fernando Correia Marques, Cândida Branca Flor (lembram-se dos Excesso, Milénio, D’Arrasar?).
Este ano as Festas de Nossa Senhora da Boa Viagem apresentam duas artistas que tiveram protagonismo durante a fase de ouro da MPP: Micaela e Mónica Sintra: gostaria de deixar-lhes alguma mensagem?
Claro que me lembro muito bem dos primeiros anos da Micaela e da Mónica Sintra e das vezes que nos cruzámos na rádio e na televisão. Gostaria de lhes deixar um grande beijo de amizade e que os seus próximos espectáculos aqui na Ericeira lhes corram tão bem como sempre acontece. Contem comigo na primeira fila!!
Quais são as suas músicas favoritas de ambas?
Têm tido grandes sucessos e melodias muito diferentes ao longo das suas carreiras. Mas inesquecíveis para mim são melodias como “Chupa no dedo” da Micaela e “Afinal havia outra” da Mónica Sintra.
Recentemente, boa parte das festas populares começou a trocar os artistas de MPP por músicos de outro tipo, não conotados com o rótulo “pimba”. Tem alguma posição sobre este fenómeno?
Não acho que isso aconteça mas penso que se devem criar momentos que agradem a todos os tipos de público. Aquilo que observo é que as comissões de festas procuram apresentar, dentro dos seus orçamentos, artistas de diferentes géneros em cada dia.