Ambiente empreendedor da Ericeira destacado em revista britânica

 

Fotografia: Sérgio Pedro Tiago

 

Acha que precisa de estar numa cidade grande para ter sucesso com a sua start-up? O trabalho remoto estava a tornar-se cada vez mais popular mesmo antes da pandemia.

A Ericeira foi recentemente tema de destaque na revista inglesa The Entrepeneurs, num artigo intitulado “All is Swell”, escrito por Gaia Lutz nesta publicação produzida pelos editores da conceituada Monocle e  que veicula notícias sobre empreendedorismo.

A antiga vila piscatória, situada a cerca de 45 km de Lisboa, é uma meca do surf famosa pelas suas ondas de classe mundial que, recentemente, tem atraído mais do que apenas surfistas e turistas de fim-de-semana: um número crescente de empresários têm vindo a escolher este destino descontraído como a base perfeita para criar uma família e começar um negócio.

Mesmo antes da pandemia, a Reserva Mundial de Surf começou a ser cada vez mais procurada por quem pretendia um local para assentar e fazer vida, mas foi durante esta fase que se observou um aumento abrupto na quantidade de pessoas cujo trabalho lhes permitiu trabalhar em modo remoto durante os meses de confinamento. Agora, a maioria dessas pessoas está a montar o seu próprio negócio e a mudar-se permanentemente, ou está em negociações com os seus empregadores para o fazer.

a empreendedora Mariana optou por sair do seu apartamento em Lisboa para experimentar a vida à beira-mar

Mariana Ricciardi é a fundadora do “The Salt Studio“, um espaço de co-working e de eventos, na Ericeira. Foi em 2019 que Mariana optou por sair do seu pequeno apartamento em Lisboa para experimentar a vida à beira-mar: “Quando cheguei, trabalhava como freelancer e era impossível encontrar um lugar decente para trabalhar. Tinha dois filhos em casa e precisava de um espaço sossegado. Pensei que se eu estava com este problema, outros também poderiam estar a passar pelo mesmo”. E o palpite de Mariana estava certo: pouco depois de abrir o espaço ao público, no seu site já existia uma lista de espera de europeus do Norte que precisavam urgentemente de uma mesa, uma boa ligação à Internet e um espírito de comunidade.

Mas Mariana não foi a única a aproveitar as potencialidades da Ericeira como pólo de negócios. Em 2015, a Câmara Municipal de Mafra inaugurou a Ericeira Business Factory– a incubadora de empresas criada para apoiar empreendedores e projectos empresariais que contribuam para o desenvolvimento económico da região.

vir morar para a Ericeira é uma mudança de estilo de vida

Foi dentro deste típico edifício azul e branco (onde funcionou durante décadas uma escola primária) que o holandês Lourens Boot fundou, há três anos, a Sponsh, uma start-up que combate a escassez de água explorando formas de capturar o vapor do ar. Uns anos antes, Boot estava numa fase menos boa da sua carreira e ao fazer uma longa viagem por Portugal com a sua esposa nasceu a ideia da Sponsh. O seu tecido inovador está a ser desenvolvido em Eindhoven (na Holanda), mas Lourens sente-se confortável a dirigir a sua empresa a partir da Ericeira: “Consigo surfar duas vezes por semana e, se precisar de viajar, estou a apenas 30 minutos de carro do aeroporto de Lisboa”.

já morei em grandes cidades de expatriados,  como Jacarta ou Beijing, mas o ambiente na Ericeira é completamente diferente

Assim como Lourens, a dupla alemã Nils Schwentkowski e Steffi Hunstock também se mudou para a Ericeira: “A nossa primeira viagem a dois foi a Portugal, em 2010, e fizemos um “pit stop”,  aleatoriamente, na Ericeira. Apaixonámo-nos por este local e acabámos por ficar mais três noites do que o suposto. E a vila sempre ficou no fundo da nossa mente como um lugar onde poderíamos vir a viver”.

Após o nascimento do seu segundo filho, o casal decidiu largar os empregos corporativos em Berlim, fazer as malas e mudar-se para a pequena vila portuguesa. Quando chegaram, descobriram que havia uma lacuna no mercado de refrigerantes, em que fazia falta uma marca mais sofisticada/alternativa e, então, começaram a montar o seu negócio.

muita gente achou que éramos loucos no início – deixar o emprego estável na Alemanha e trazer os filhos para a Ericeira só para começar uma marca de refrigerantes

Enquanto o centro histórico da Ericeira ainda é dominado, maioritariamente, por restaurantes e surfshops, uma nova vaga de empreendedorismo está lentamente a começar a deixar a sua marca na vila – e não é exclusivamente tecnológica. Muitos bares e restaurantes de praia, por exemplo, servem Why Not Soda, a marca da bebida artesanal com sabores de frutas naturais criada pelo casal alemão.

Mafra não é muito conhecida fora de Portugal, mas quem acaba por vir quer ficar!

… diz Jorge Troper, que se mudou de Luanda para Mafra há cinco anos e é consultor de investimentos, assessorando clientes brasileiros e angolanos na entrada no mercado português.

Luís Castro Henriques, CEO da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal -, revelou à “The Entrepreneurs” que existe uma tendência definitiva de pessoas novas descobrirem Portugal e se instalarem aqui, ao verem o que o país tem para oferecer e o respeito que tem pelo espírito empreendedor. Tal como Lourens, Luís também referiu o facto de a Ericeira ter uma “localização bastante singular: a 30 minutos de um aeroporto e com uma bela vista para o oceano”.

Quase no final do artigo, encontramos uma questão verdadeiramente pertinente para o tema do empreendedorismo na vila: “Como é que se tem incentivado as start-ups na Ericeira?”. O CEO da AICEP responde que, há alguns anos, foi estabelecido um visto de tecnologia que simplifica e acelera todos os procedimentos para empresários desse sector vindos de fora da União Europeia. Com o trabalho remoto a tornar-se cada vez mais uma tendência, mesmo independentemente da pandemia, Portugal pode beneficiar muito com isto, podendo este ser um aspecto definidor de crescimento da vila onde se encontra a única Reserva Mundial de Surf do continente europeu.

Neste artigo, são ainda apontados três spots, bastante emblemáticos da vila, “que o prepararão para o mar”: a Boardriders, a Magic Quiver e a Wavegliders.

Esta publicação também está disponível em | This article is also available in: Inglês