“Vou estar tranquilo, com cabecinha e chegar o mais longe possível”

Filipe 'Cabrela' Raposo. - ph. DR

 

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Filipe ‘Cabrela’ Raposo já está nos Açores, onde vai decorrer o Bodyboard Pro Tour, a última etapa do circuito nacional de bodyboard. O atleta de 26 anos, proveniente de S. Julião, está em 2º lugar no ranking a 80 pontos do primeiro classificado, o bodyboarder da Costa da Caparica, Hugo Pinheiro.

Calmo e concentrado, ‘Cabrela’ tomou um café com a AZUL na sua praia, numa manhã em que as ondas convidavam apenas à contemplação. O atleta mostrou-se tranquilo para a competição e não pensa no título, preferindo focar-se nas baterias uma-a-uma. Destacou ainda a importância das ondas, dos amigos e da beleza da Ericeira como factores-chave no seu crescimento enquanto bodyboarder de alta competição.

 

Preparado para a derradeira etapa do Bodyboard Pro Tour?

Sim, estou calmo, por acaso. Estou sereno e nem quero pensar que estou em 2º lugar. Heat-a-heat e descansadinho da minha vida para não ter stresses, o que já foi um erro nas outras provas. Para mim foi um erro ir com muita ansiedade e pensar que tenho de passar aquele e o outro heat. Neste campeonato não vai ser assim. Vou estar tranquilo, com cabecinha e chegar o mais longe possível.

 

Como é que está a moral para o campeonato?

Está fixe. Agora que também recebi dois patrocínios novos – a 5C Bodyboards e a DUNES –, fiquei com uma pica adicional. Convidaram-me para andar com os equipamentos deles e têm tudo para se dar bem em Portugal.

 

Que expectativas tens para o campeonato e as ondas açorianas?

Estive a ver as previsões e vem uma ondulação monstruosa para os Açores. Vai entrar grande. Duvido muito que o campeonato seja em Santa Bárbara, deve realizar-se no Pópulo, que é do outro lado da ilha [a sul], que também recebe boa ondulação e o vento aí em baixo vai ser offshore [de terra para o mar] e no norte vai ser mais onshore [do mar para a terra]. O Pópulo é uma praia quase em Ponta Delgada, é tipo Sesimbra. É um areal que não mexe, está parado uma data de tempo, mas quando dá é muito bom. E se for aí o campeonato, também dá esquerdas e direitas, dá para a malta se divertir. Mas é assim, no ano passado estive lá duas semanas e os Areais [de Santa Bárbara] surpreenderam durante uns três dias. O mar estava grande, clássico, ondas espectaculares. Mas nos outros dias de prova houve imensa nortada. É uma ilha, pode dar de um lado como do outro, pode até nem haver ondas. Mas penso que vai dar umas boas ondas.

 

Como é que te tens preparado para o campeonato? Qual tem sido a tua rotina?

Vou ser sincero, não é do meu género ir ao ginásio. O ano passado fui por causa da lesão que tive [partiu a clavícula direita] e tentei arranjar esse suplemento extra, porque os músculos começaram a mirrar bastante no tempo em que estive parado. Mas ultimamente não paro. Vou para dentro de água, vou fazer qualquer coisa, vou trabalhar. Não sou muito de ter aquela rotina “vou aqui, vou ali”, mas sei que tinha uma grande ajuda com o ginásio graças à benesse do Ericeira Surf Clube. Infelizmente isso acabou. Mas acho que se uma pessoa surfar, pelo menos, duas vezes por dia, fizer uns alongamentos e de vez em quando uma corrida – e, claro, uma alimentação à base de grelhados e massas, nada de feijoadas à transmontana todos os dias –, então funciona.

O Pópulo é uma praia quase em Ponta Delgada, é tipo Sesimbra. É um areal que não mexe, está parado uma data de tempo, mas quando dá é muito bom.

Por onde tens andado a surfar?

Ultimamente, tenho surfado na minha praia, S. Julião; Ericeira; tenho ido à Nazaré, apanhei lá boas ondas; Costa da Caparica; Cova do Vapor; e Carcavelos. Não faço grandes percursos.

 

O que é preciso para chegares ao título?

Estou a 80 pontos do Hugo Pinheiro, o líder do ranking. A nível de pontuação de provas, o que me diferencia dele é que eu já alcancei um primeiro lugar [na 2ª etapa, em Cortegaça, Ovar] e ele este ano ainda não alcançou nenhum primeiro lugar. Digamos que, do meu primeiro, como são 1000 pontos, posso ficar à frente dele com uma pequena margem. E posso ter a felicidade de aqueles que estão atrás de mim e também estão na luta pelo título – o Tiago Silva e o Rui Pereira – não se safarem bem. Penso que isto vai ser taco-a-taco. Os dois mais próximos do título sou eu e o Pinheiro. Mas sabemos que as provas não começam nas meias-finais, temos de percorrer o caminho e tentar chegar o mais longe e, se puder, à frente do Pinheiro. Não quero fazer contas, é desenrolar a prova, heat-a-heat, com cabecinha e depois logo se vê, porque na competição nunca se sabe. Eu também disse que a Praia Grande era dos sítios que mais gostava de surfar e correu-me mal.

 

Que papel tem tido a Ericeira no teu desenvolvimento enquanto bodyboarder?

A Ericeira tem excelentes ondas, um potencial que, de norte a sul, só Sagres tem também, com um leque tão variado de ondas. Mas na Ericeira, a beleza, as ondas, os amigos, tudo isso influencia o meu bodyboard. Não é obrigatório, mas um atleta gosta de boas ondas. Se temos isso perto de casa, é um privilégio. Se um atleta mora em Lisboa ou um bocado fora desta zona, demora tempo para se deslocar aqui para surfar este tipo de ondas. Moro a dois minutos da Ericeira e tenho vários picos à minha disponibilidade, dependendo da ondulação. Tomara muita gente poder viver onde vivo e viver nesta beleza e neste Portugal belíssimo, que é mesmo assim.