Fotografia: Mauro Mota
A Jamaica não se qualificou para o Mundial de Futebol no Brasil, mas saiu vencedora do Sumol Summer Fest. Ky-Mani Marley, na véspera, antecipara o show de Anthony B & cia., o melhor de todo o festival, com a Austrália (muito à conta do trio atacante liderado por John Butler) e Portugal (Supa Squad; Dillaz…) a receberem medalhas de prata e bronze, respectivamente.
Ainda dentro das quatro linhas, D-RO inaugurou o último dia no palco Sumol, por onde depois passou D8, uma das revelações do concurso televisivo Factor X. Este terminou a sua actuação enquanto Brasil e Chile discutiam a passagem aos quartos-de-final do Mundial de Futebol, pelo que muita gente optou por acorrer ao recinto apenas por altura do concerto de Dengaz, anunciado a poucos dias do festival, em substituição dos brasileiros Cidade Negra. Ao hip hop de D8, juntou também dancehall e foi lançando sucessivos trunfos, entre passagens por hits internacionais e momentos mais intimistas. Por essa hora, com o Sol a meio caminho do mar, a dub zone (onde a qualidade musical foi uma constante) estava a cargo de Jah Version.
Entre os concertos de Dengaz e Angus & Julia Stone, no halfpipe powered by Element (que dinamizou os hiatos no palco Sumol) realizavam-se as duas battles que antecederiam a decisiva finalíssima. Ao som de malhas hip hop (como o já clássico “Drunfos”, de Halloween), alguns dos melhores skaters nacionais davam tudo para gáudio da assistência. Destes encontros mano-a-mano saíram vencedores Lawrence Aragão e Pedro Roseiro, que avançaram assim para a última etapa da longa maratona iniciada na sexta-feira. A finalissima, realizada antes do concerto de Anthony B, teve um nível muito elevado e contou com dois skaters de estilos diferentes e que proporcionaram um espectáculo intenso. Bruno Roseiro acabou por levar o prémio de 300 € para casa, mas a vitória assentaria bem a qualquer um deles.
O duo Angus & Julia Stone veio da Austrália com folk e rock na bagagem. Deram um concerto interessante, com variações melódicas e rítmicas (até chegaram a passar pelo ska e a introduzir sopros) que, ainda assim, não chegaram para aquecer o público na noite fresca. Já Popcaan, que entrou em cena perto das 23 horas, foi sinónimo de dancehall em alta voltagem. Boa parte do público, especialmente de faixas etárias mais baixas, terá vindo para assistir à performance da sensação jamaicana responsável por sucessos como “Only Man She Want” e este não desiludiu a sua base de fãs.
De Anthony B já sabíamos (até porque actuara neste mesmo festival em 2011) poder contar com um concerto sem pontos mortos e um vendaval de reggae e dancehall. E desta vez o jamaicano fez-se acompanhar por compatriotas: aos anunciados Perfect Giddimani e Lutan Fyah juntou-se uma surpresa não incluída no cartaz (o também jamaicano Johnny Cool) e todos eles mantiveram a chama acesa antes e depois da entrada em cena do Mr. yaga yaga yo: Anthony B começou por pegar em “Time Will Tell”, de Bob Marley, antes de se lançar a “Higher Meditation”, “World a Reggae Music” e muitos outros temas com os seus movimentos peculiares e energia inesgotável. Um dos pontos altos terá sido a versão de “Imagine”, de John Lennon, em que se dirigiu aos mais jovens e pediu para imaginarem que não existiam Facebook nem iPhones, mas todo o concerto foi vibrante e cheio de carisma.
O último dia do Sumol Summer Fest já teve mais público do que Sexta-feira, mas ainda assim esta terá sido a edição do festival com índices mais baixos de assistência. Números ao cuidado da organização, que se pretender inverter este resultado deverá apostar mais forte nos nomes que compõem o cartaz e, por outro lado, realizar incursões certeiras fora do nicho reggae para atrair outras faixas etárias e públicos mais diversificados. Essa será, certamente, a melhor forma de aproveitar os pontos fortes do festival, nomeadamente a sua aura de boas vibrações, a proximidade de Lisboa e a marca Ericeira, a que este ano se juntaram algumas melhorias no recinto bem como as excelentes apostas na zona dub e a grande dinamização do skate park.