Fotografia: Pedro Mestre
No passado Domingo, dia 24 de Outubro, as condições do mar na Ericeira estavam excelentes para a prática de natação. Diogo Casaleiro, trabalhador do Município de Mafra de 42 anos, aproveitou a circunstância para celebrar o 10º aniversário da consagração da Ericeira como Reserva Mundial de Surf de modo original.
Foi no dia 14 de Outubro de 2011 que a Save The Waves Coalition consagrou um trecho costeiro da Ericeira como a segunda Reserva Mundial de Surf do mundo.
Diogo percorreu mais de seis quilómetros desde a Praia de São Lourenço à Praia dos Pescadores
Para assinalar esta efeméride, Diogo percorreu a nado um total de seis quilómetros e meio. Além dos quatro quilómetros da RMSE, o nadador sentiu-se preparado para estender a sua aventura por mais dois quilómetros e meio, perfazendo assim mais de seis quilómetros desde a Praia de São Lourenço até à Praia dos Pescadores, percurso que demorou cerca de três horas e um quarto a concluir.
Sozinho no meio do mar e em certos locais à distância de um quilómetro da costa, Diogo preveniu-se com uma pequena prancha de bodyboard como “salva-vidas” utilizado também para transportar alguma comida no interior de um saco – felizmente, tudo correu pelo melhor e o trajecto foi concluído com sucesso.
Embora não se considere um desportista assíduo, Diogo Casaleiro tem realizado algumas jornadas dignas de registo, sobretudo em bicicleta, como por exemplo a Estrada Nacional 2, o percurso de 526 quilómetros em 24:00 horas ou, ainda, a rota Viana do Castelo – Lisboa.
Aproveitámos a oportunidade para colocar algumas questões a Diogo Casaleiro sobre esta iniciativa:
Como te lembraste de celebrar os 10 anos da Reserva desta forma?
Quando nos lembramos da Reserva Mundial de Surf da Ericeira (RMSE), o nosso pensamento vai para desportos de ondas/deslize (surf, windsurf, SUP, etc.), bem como para a preservação do ecossistema aquático e terrestre que caracteriza e dá fundamento à própria Reserva. Mas existem outras vertentes que podem ser exploradas neste território, como o mergulho e a natação. Ainda há poucos dias houve uma prova de natação em águas abertas ali bem perto, na Praia dos Pescadores: a “milha da Ericeira”. Desde criança que vou para a Praia de São Lourenço, e qual navegador dos Descobrimentos, nos últimos anos olhava para a arriba do forte como um Cabo das Tormentas/Boa Esperança e sentia um apelo de fazer a sua travessia. No Algarve cheguei a fazer umas aventuras mar adentro, até cerca de 200 metros da praia, mas ali o desafio era mais arriscado face à rebentação, às arribas e à ausência de contacto visual com a praia em caso de necessidade de socorro. Como não costumo ir ao mar quando a água está fria (como é habitual nesta zona), há dois anos comprei, por graça, um fato de neoprene tão barato quanto a finura da sua espessura. Só neste verão é que o estreei, quando em Agosto decidi que seria o dia de me aventurar para lá do forte. Assim, fui de lá até à Praia dos Coxos e regressei (cerca de 1,5 km). Confesso que estava um pouco nervoso, pois ir sozinho para o meio do mar não é muito aconselhável, mas também na verdade é muito difícil arranjar companhia. Mas tudo acabou por correr bem, aliás, muito melhor do que o previsto, pois não tive frio, nem cansaço ou complicações com correntes. Aliás, para minimizar o efeito das correntes não dispenso barbatanas e pás para as mãos. Para além de permitir melhor desempenho, é como se fosse um motor potente para “não ficarmos mal nas ultrapassagens”… Com isto, já tinha colocado na minha cabeça que iria continuar a aventurar-me mas só no ano seguinte, com uma jornada maior, como por exemplo ir até Ribeira d’Ilhas. Porém, o Verão de 2021 estendeu-se para lá do que é normal, com dias quentes e mar fantástico em termos de temperatura e ondulação, e reparei que as previsões para o dia 24 de Outubro eram excepcionais. Não resisti e, seguindo o ditado do “não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”, lá me fiz ao mar. Tendo em conta que Outubro de 2021 marcava o 10º aniversário da RMSE e que efectivamente as condições do mar e do clima estavam sublimes, logo que passei o forte de S. Lourenço e olhei a paisagem fantástica da RMSE achei que era a oportunidade de marcar este aniversário com uma grande aventura. Assim, fitei no horizonte a grua e o pontão do Porto da Ericeira e foram 6,5 km percorridos em 3 horas e 15 minutos de puro prazer a nadar.
Que significado e importância atribuis à Reserva?
Enquanto trabalhador na Câmara Municipal de Mafra tive alguma ligação à criação da RMSE, pois há 10 anos atrás fazia parte do Gabinete da Vereação do Eng. Hélder Silva e lembro-me até de alguns pormenores do evento de lançamento, que ocorreu no Parque de Santa Marta. Longe de mim imaginar que a atravessaria a nado 10 anos depois! A Reserva é muito importante a nível local, nacional e internacional, quer para valorizar e dar a conhecer as condições fantásticas da faixa costeira de 4 km que vai de Casais de São Lourenço à Ericeira, não só em termos aquáticos mas também relativamente à sua adjacência terrestre, quer para preservá-la e assegurar que assim se manterá ao longo das gerações vindouras. As 7 ondas de qualidade mundial são cada vez mais procuradas por surfistas oriundos dos vários continentes, que esperam encontrar na RMSE um dos melhores spots das suas vidas. Estragar as ondas pode ser difícil, pois elas derivam dos fundos rochosos, mas os riscos de poluição aquática, visual, sonora, etc. estão sempre presentes e a RMSE e os seus responsáveis, nomeadamente a autarquia e as diversas instituições/associações, são preponderantes para a atractividade e qualidade deste sensível território.
existem outras vertentes que podem ser exploradas neste território, como o mergulho e a natação
Fizeste algum treino prévio específico para te preparares para esta travessia?
Na maior parte dos fins-de-semana costumo dar uma voltinha de bicicleta e, mesmo sem preparação específica, de vez em quando faço umas tiradas mais longas, com destaque para Viana do Castelo -Lisboa (566 km) em 3 dias, EN2 (739 km) em 3,5 dias, Torres Vedras – Vila Real de Santo António (526 km) em 24 horas, etc. Na natação está a ser igual. Costumo ir em horário livre às piscinas municipais da Azueira nadar 30 minutos por semana para manter a boa postura corporal e “esticar o esqueleto”, como facilita o ambiente aquático. Estimo que faça “apenas” 1,5 a 2 km por sessão semanal. Nada comparável aos 200 minutos / 6,5 km do passado Domingo. Não consigo estar muito tempo a nadar meramente de um lado para o outro da piscina. Pelo contrário, apesar dos perigos, nadar em águas abertas é sem dúvida mais estimulante, pois a paisagem vai mudando e surge o “já agora vou até ali”, como acontece no ciclismo, o que nos leva a fazer maior distância e mais tempo de actividade com igual ou maior prazer.
Gostavas de deixar algum conselho para quem pretenda fazer natação em águas abertas, principalmente fora da época balnear?
Eu não me considero especialista. Nada disso. Nem amador sou, pois esta travessia da Reserva Mundial de Surf tratou-se, ainda e apenas, da minha segunda aventura neste tipo de actividade desportiva. Porém, é consensual que as condições climáticas e do mar, a segurança e o bem-estar são fundamentais. O clima é importante pois a falta de Sol é desmotivante e desagradável, para não falar do nevoeiro, que é extremamente perigoso. O mar deve estar calmo, pois a ondulação perturba a respiração e a nossa deslocação. Lutar contra o mar não vale a pena e mais vale esperar por dias de “mar chão”. Quanto à segurança, eu levei uma prancha para poder agarrar-me e flutuar em caso de necessidade. Levei também uma touca laranja para ser mais visível a terceiros. O ideal seria ter alguém como companhia, e melhor ainda um suporte de mota de água ou barco, canoa, SUP, etc. Telemóvel ou alguém em terra a vigiar também são bem-vindos. O bem-estar deve ser assegurado quer com roupa adequada (fato isotérmico e camisola de lycra interior para evitar assaduras no pescoço e axilas) quer com alimentação, como barras energéticas e garrafas de água ou outra bebida adequada.
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