Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografias: Mauro Mota
Em vésperas de o Grupo Desportivo União Ericeirense (GDUE) entrar num ciclo decisivo para decidir o acesso à divisão Pro Nacional de futebol, entrevistámos o treinador principal do clube jagoz. Luís Freire, de apenas 28 anos, orienta o GDUE desde a época 2012-2013, sendo responsável pela subida da equipa da Ericeira à Divisão de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. Agora pretende repetir o feito e, para tal, apela ao apoio dos sócios, simpatizantes e de todos os que têm a vila dos ouriços no coração. Fiquem com o balanço prévio duma temporada que pode entrar para a História deste clube nobre e lutador.
No início da época pensavam ser possível chegar a esta altura a lutar pela subida de divisão?
No início da época desportiva debatemo-nos com muitas dificuldades, até para competir. As nossas preocupações iniciais centraram-se em arranjar condições para disputar o campeonato. Reunir todo o grupo (equipa, departamento médico, equipa técnica e directores da equipa), não foi uma tarefa fácil, pois o clube atravessa momentos de grande indefinição directiva. Tivemos que ir para a Ericeira buscar apoios, numa acção “porta a porta”. Desde já agradecemos a quem nos ajudou nesta altura tão delicada. Começámos com este desgaste emocional, mas convictos que se fôssemos fortes nesta fase o trabalho de todos poderia resultar numa boa época desportiva. Quando falámos com os jogadores tínhamos o nosso objectivo bem definido, que passaria sempre por lutar até ao fim pela subida de divisão, pois acreditávamos na qualidade futebolística e humana do plantel e dos que o rodeiam. Digamos que este foi um sonho que tivemos sempre presente entre nós, e do qual nunca abdicámos, mesmo e especialmente nas alturas mais difíceis, onde mostrámos muita força psicológica para dar sempre uma resposta que nos colocasse de novo na luta pelo nosso sonho. Actualmente, perseguimos esse objetivo, com a consciência que ele trará muita alegria e orgulho a todos os que fazem parte desta equipa e a todos que gostam e apoiam este clube. Resta-nos lutar até ao fim, lembrando-nos de tudo de bom isso nos pode trazer.
Uma subida de divisão pelo segundo ano consecutivo será um feito ímpar na história do GDUE. Isso é motivo de pressão ou dá-vos ainda mais alento?
Temos a noção que trabalhamos com ambição e de forma séria, e que quando assim é existe mais probabilidade de serem alcançados feitos ou marcas distintas. Todos na equipa têm noção que temos feito coisas bonitas. Lutar por feitos desta dimensão no Ericeirense é sempre extremamente positivo. Pensamos que pressão tem quem luta pela permanência, pois pode perder o que tem. Neste caso, lutamos por ascender a um patamar em que nunca estivemos, isso dá-nos uma motivação extra. Tudo o que conseguimos foi conquistado por nós, ambicionamos mais e lutaremos por isso.
Jogar em casa poderá ser factor decisivo, se tivermos do nosso lado todos os que gostam do clube e da equipa.
A época está a terminar, mas há três finais pela frente. Existe alguma margem de erro nos próximos jogos em casa, frente ao Fontainhas e ao Atlético do Tojal?
Queremos garantir o nosso objetivo o mais cedo possível, sabendo que para isso só as vitórias interessam em cada jogo até ao fim do campeonato. A margem de erro é imposta pela nossa ambição, logo iremos fazer tudo para vencer em cada um dos três jogos.
Terem os dois próximos jogos em casa pode constituir um factor decisivo, para mais em confrontos com adversários directos na luta pela subida?
Jogar em casa poderá ser factor decisivo, se tivermos do nosso lado todos os que gostam do clube e da equipa, se tivermos à nossa volta um ambiente de apoio e de alegria de quem quer muito vencer com a equipa. Sabemos que jogar em casa é especial para nós, por muita coisa. Estes jogos em casa serão mais um factor de motivação para todos os que fazem parte do nosso grupo.
Contam com a Ericeira em peso a puxar pela equipa, nestas partidas frente ao Fontainhas e ao Atlético do Tojal?
Queremos pedir a todos os Ericeirenses, mesmo aqueles que nem sempre vão ao futebol, que venham. Estes jogos serão bonitos de se viver, e farão mais sentido se todos estivermos presentes e a puxar com muita força para o mesmo lado. Estes jogadores já deram quase dois anos em representação deste clube e desta vila. Pedimos agora que venham estas duas tardes ao estádio, podendo apoiar e retribuir também todo o esforço que têm desenvolvido. Pensamos que, todos juntos, poderemos atravessar todas as emoções que virão futuramente, e no fim sairmos do estádio felizes.
Esta época houve dois acontecimentos que trouxeram reconhecimento ao GDUE: o guarda-redes Tiago Petrony integrou a selecção nacional de futebol de praia e o treinador-adjunto Vítor Gazimba foi contratado pelo clube campeão norueguês. O GDUE pode ser considerado uma montra de talentos?
Este grupo cresceu junto desde que se conheceu. Muitos jogadores ainda não tinham conseguido obter sucesso, outros estavam a atravessar uma fase negativa a nível desportivo e outros iniciavam-se como séniores. Em relação à equipa técnica, tinha tudo a provar, pois é constituída por jovens treinadores que se conhecem há muito tempo, mas que juntos a nível sénior se estreavam. Sabíamos da desconfiança que reinou inicialmente, mas com tanto trabalho e ambição os resultados falaram por si. Tínhamos consciência que não haveria nada a perder para ninguém e conseguimos juntos evoluir e tornarmo-nos melhores. Sabemos que existe muito valor e potencial dentro do nosso balneário. Todo o sucesso individual vem de um trabalho de maturação do grupo e resulta nestes prémios que só são produto de trabalho e humildade, além da qualidade que emerge quando se trabalha de forma séria. O Vítor, em consequência de todo o grande trabalho universitário desenvolvido e da experiencia que adquiriu no Ericeirense, teve esta grande oportunidade. Após a sua saída, escolhemos o João Ferreira, alguém muito novo e com muito potencial, que encaixou muito bem no grupo, sendo absorvido por todos com carinho e naturalidade. Quanto ao Petrony, sabemos que tem trabalhado de forma séria e que sabe que só com um grande grupo de pessoas e colegas poderá continuar a apresentar boas performances. Estes sucessos são partilhados por todos e fazem-nos querer sempre demonstrar mais, pois sabemos que seguem o nosso trabalho. Além destes casos existem outros que merecem destaque, pois felizmente temos no plantel jogadores que poderão entrar noutras divisões a curto prazo, sabendo eles que essa oportunidade apenas chegará com persistência e muito trabalho.
Que factores estão na base deste reconhecimento?
Sinceramente, pensamos que conseguimos criar um espirito muito bom à nossa volta, onde todos têm que se sentir importantes, porque realmente o são. O reconhecimento do trabalho desenvolvido é fruto de muita persistência, de muito trabalho e de um conjunto de princípios e valores colectivos. Sem eles não seríamos esta equipa guerreira que mostra com regularidade que tem vontade de orgulhar todos que a apoiam. O trabalho tem vindo a ser recompensado a nível classificativo ao longo destes dois anos, e assim torna-se normal que exista maior interesse no que vamos realizando. Gostaríamos de terminar agradecendo a duas pessoas especiais em tudo isto e que, de certo modo, estarão agora orgulhosas por tudo o que têm apostado e ajudado esta equipa. O João Bizarro, nosso director, esteve desde o princípio connosco, sempre presente nos bons e maus momentos; e o capitão “Marinho” [Mário Claro], por ser muito mais que um capitão dentro do GDUE, inexcedível na forma como ajuda a solucionar problemas que surgem de forma diária. Se conseguirmos atingir o nosso sonho colectivo, estas duas pessoas merecem bastante serem reconhecidas por todos. Desde já fica o nosso agradecimento e a esperança de que todos poderemos juntos triunfar em mais esta época desportiva