Texto: Filipa Teles Carvalho | Fotografia: DR
Livros recentemente dados à estampa, com Ericeira e Mafra dentro. Para conhecer, saborear ou oferecer. Porque ler é poder e, também, um enorme prazer.
«Memórias de um Escrivão – alguns aspectos da vida na Ericeira», de Jaime d’Oliveira Lobo e Silva, inaugura esta série de Leituras com ADN.
«Um escrivão quando se resolve, deveras, a escrever, não está com hesitações; vai logo direito ao seu fim.»
Jaime d’Oliveira Lobo e Silva
«… um dos mais expressivos documentos de informação local que me tem sido dado a admirar.»
Horácio Rubim Gorjão
«Pelos meados deste mês já nas lojas se vendiam as broas do Natal a 5 e a 10 réis cada uma, que os rapazes consumiam em abundância. Em muitas casas se armava o presépio, celebrando a Novena do Menino Jesus, na qual se pedia sempre um padre-nosso por todos aqueles que andavam sobre as águas do mar.»
Um pedaço da Ericeira contemporânea deste autor que escreve sobre ela ao pormenor nesta obra, com recortes e histórias dos meses e do que neles acontecia por toda a vila, descrevendo sentimentos e ambientes, num volume recentemente publicado de textos que até aqui tinham permanecido (quase todos) inéditos e muitas fotografias. Jaime d’Oliveira Lobo e Silva escreveu e Amadeu Duarte Pereira coligiu e organizou, dando à vida este livro.
Neste volume onde tanto se dá a conhecer sobre a terra à qual o autor se devotou, em dedicação e estudo, podemos saber sobre a «casa dos homens do mar», «como se brincava ao Entrudo», «figuras populares», fontes, fortes, chuvas e tempestades, sobre o casino, a fundação da vila, divertimentos e curiosidades, entre muitos outros aspectos, vistos e escritos por quem os conheceu profundamente, assim como aos seus intervenientes.
Nestas páginas respiram a História e histórias que o autor viu e viveu a partir de dentro. Oscila entre o registo histórico e diarístico – sem dúvida intimista – debruçado sobre uma comunidade assumidamente amada e descrita numa enorme amplitude de temperaturas, contrastes e muita informação. Narrativas, episódios, quadros vivos.
Para apaixonados ou curiosos, sem dúvida um registo muito completo e expressivo. Escrito com alma, vida e graça.
Páginas saborosas para quem deseje (re)conhecer outros tempos da Ericeira e como aqui se vivia, recordar ou simplesmente viver este mosaico, contrário ao conhecimento superficial. Um livro onde pode caber viva uma vila, seus usos e emoções.
Inserido na colecção «Lugares de Memória», a edição é da Mar de Letras Editora, com o patrocínio da Caixa de Crédito Agrícola.
Jaime d’Oliveira Lobo e Silva (1875-1943) é amplamente reconhecido na Ericeira como um dos seus mais ilustres filhos. A Casa de Cultura da vila tem o seu nome.
Foi um homem de muitos interesses e acções e esta é apenas uma breve nota sobre a sua riquíssima biografia.
Foi, até à sua morte, escrivão da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira. Exerceu várias actividades como a de arquivista, arqueólogo, bibliógrafo, paleógrafo. Foi músico e colaborador das várias filarmónicas que existiram na Ericeira, copiando e transcrevendo inúmeras partituras. Foi correspondente do jornal «Mala da Europa», onde escreveu crónicas de usos e costumes da Ericeira, onde colaboravam, entre outros nomes, Manuel Arriaga, Teófilo Braga e Tomás Ribeiro; foi também correspondente do jornal «Gazeta de Torres».
A sua bibliografia impressa inclui inúmeros títulos – entre livros e artigos publicados na imprensa, com destaque para os conhecidos «Anais da Vila da Ericeira» e «A Vida Quotidiana na Ericeira nos Começos da I República».