Fotografia: DR
Desde o início de Outubro que a iniciativa “Conhecer o mar de Cascais, Sintra e Mafra” junta uma equipa de 50 investigadores numa expedição com o intuito de explorar uma área ainda “mal conhecida” do mar, ao longo de 12 dias, contando com a ajuda destes três municípios, da Fundação Oceano Azul e do Governo de Portugal.
A expedição, intitulada como “Expedição Oceano Azul Cascais/Mafra/Sintra” justifica-se pela necessidade de conhecer e proteger o património natural do país, “respondendo às políticas nacionais, europeias e internacionais de protecção e gestão sustentável do oceano”, afirmam os respectivos organizadores.
Segundo o biólogo e investigador Henrique Cabral, consultor científico e co-lider da expedição, esta “é uma zona próxima de grandes centros urbanos, mas mal conhecida. É uma zona que conhecemos de terra mas não o que acontece no mar.”
os investigadores pretendem identificar vários organismos e espécies dominantes
Ao longo dos 12 dias, equipas de mergulhadores que, segundo Henrique Cabral, são todos biólogos e especialistas em diversas áreas, vão registar os organismos marinhos numa zona pouco profunda, utilizando uma metodologia científica e padronizada. Os investigadores vão ainda identificar outros organismos e espécies dominantes de algas devido à influência que têm nos habitats.
Embora os mergulhadores tencionem investigar zonas até 20 metros de profundidade sem ajuda de máquinas, nas zonas mais profundas terão de recorrer a um veículo remotamente operado, chamado de ROV – Remotely Operated Vehicle.
O biólogo explicou ainda à Lusa que “estamos a pensar fazer trabalho na ‘montanha de Camões’, uma zona a 12 milhas a oeste do Cabo da Roca, um monte submarino com alguma diversidade biológica”, com a ajuda do ROV que, estando equipado com uma câmara de filmar, possibilita fazer um “varrimento vídeo em áreas mais vastas” e um inventário das zonas mais profundas – estas imagens serão depois processadas em computador.
a investigação será realizada até 30 quilómetros da costa
Uma das dificuldades desta investigação é que tanto os mergulhadores como o ROV afastam a biodiversidade marinha. Para solucionar este problema, será usada a técnica BRUV (Baited Remote Underwater Video), que consiste em usar uma câmara de fimar com isco, permitindo assim identificar espécies tanto à superfície como nas áreas mais profundas do mar.
De forma a conseguir-se um conhecimento o mais amplo possível, estas metodologias serão complementadas com estudos por avistamento de outros animais, como aves, a partir de pequenas embarcações que saem do navio Santa Maria Manuela, diz o responsável pela expedição.
Já no que toca à zona costeira, a investigação faz-se também por terra e poderão ser utilizados drones de forma a possibilitar uma maior acessibilidade em zonas de pouco acesso, utilizando fotografia e vídeo para determinar, por exemplo, a percentagem de algas ou de mexilhões.
Grande parte da investigação será realizada até 30 quilómetros da costa, com especial atenção a uma zona de canhões submarinos (desfiladeiros) em Lisboa e na Nazaré e também a uma zona de transição de espécies, entre águas quentes do Norte da África e águas frias, devido à possibilidade de mudanças na fauna e flora provocadas pelas alterações climáticas.
Encontram-se envolvidas nesta iniciativa instituições científicas como o MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente), o CCMAR (Centro de Ciências do Mar), o CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar), a SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e o IH – Instituto Hidrográfico.
A iniciativa é liderada por Emanuel Gonçalves, responsável científico e administrador da Fundação Oceano Azul, e por Henrique Cabral, biólogo e investigador no Institut National de Recherche pour l”Agriculture, l”Alimentation et l”Environnement (INRAE), em França. O último explicou à Lusa que o IPMA e o IH vão também fazer outras investigações ao longo dos 12 dias, e que questões como o lixo marinho ou as pressões provocadas pelas actividades humanas também serão tidas em conta.