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Foi em outubro de 2023 que chegou o anúncio. A vila da Ericeira havia sido distinguida com o galardão de “Melhor Vila Turística”, uma distinção atribuída pela Organização Mundial do Turismo (OMT).
Este galardão reconhece destinos turísticos de referência, com um máximo de 15 mil habitantes, que estejam inseridos numa paisagem com importante presença de atividades tradicionais, partilhando valores e estilos de vida da comunidade. Além disso, a sua atribuição está assente no cumprimento de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ligados à Agenda 2023, em 9 áreas distintas, que vão desde a Promoção e Preservação de Recursos Culturais, Sustentabilidade Económica, Social e Ambiental, Desenvolvimento do Turismo, entre outros.
É certo que reconhecimentos como este trazem responsabilidades acrescidas, tornando mais visível o papel que cada agente desempenha, contribuindo para a manutenção e preservação daquilo que constitui a identidade da vila, cultura e tradições, mas também do seu património e recursos naturais.
É inegável que a Ericeira é uma vila piscatória com História, sendo isso que, logo à partida, a distingue. As primeiras referências aos pescadores datam do seu primeiro foral, atribuído em 1229, e a pesca mantém-se como uma das tradições mais vincadas e respeitadas. Márcio Barros, presidente da Associação de Pescadores Profissionais da Ericeira (APPER), explica-nos que “preservar esta arte faz parte de qualquer jagoz, querer manter as tradições. Eu não imagino que o turismo fosse possível da mesma forma se não fôssemos uma vila piscatória com tanta tradição.”
Embarcações de Pesca Tradicional modernizadas – ph. CMMafra
O surfing tem ganho cada vez mais destaque, constituindo um dos grandes responsáveis pelo interesse global pela Ericeira. O aumento no número de praticantes e competidores tem crescido exponencialmente e, em cerca de 10 anos, surgiram mais de 40 escolas de surf oficiais – dados facultados pelo Ericeira Surf Clube. Foi também na vila que se estabeleceram grandes marcas deste cluster, criando emprego e trazendo mais turistas à procura “das ondas” e do contacto com a natureza”
Miguel Barata, presidente do Ericeira Surf Clube, explica que desde a criação do Clube têm sido vários os desafios, incluindo o da garantia de que as praias e o território sejam capazes de absorver a quantidade de novos intervenientes.
“Fruto do esforço de muitos, tem-se procurado manter o equilíbrio necessário, procurando intervir em algumas áreas, para que todos possam desfrutar desta maravilha única que é a Ericeira.”
Cave – ph. Gonçalo Plácido
Regressando às tradições, sendo a Ericeira uma vila de faina marítima, a devoção religiosa mantém uma forte expressão, visível não só no património material como também nas suas festividades, como é o caso das Festas em Honra da Nossa Senhora da Boa Viagem ou de São Pedro, por exemplo. Em todas estas ocasiões há um som (ou vários!) que se faz ouvir: o da Filarmónica Cultural da Ericeira, instituição com mais de 170 anos. Rita Jorge, presidente da associação, explica-nos que “o contexto da Filarmónica é já muito enraizado na vila e, apesar da sua longa história, vamos sempre mantendo o que é tradição, o que é de origem. Por exemplo, nas procissões. Desde o início que é assim: há uma festa na vila e a banda acompanha”.
Filarmónica Cultural da Ericeira – ph. DR
Quando juntamos muito do que foi referido até agora, falamos em cultura. Apesar da definição ser ampla, falamos essencialmente do conjunto de estruturas, crenças e hábitos que determinam uma comunidade. Os recursos culturais de uma vila como a Ericeira são inúmeros, muitos deles guardados pela sabedoria popular e pelas gerações mais antigas.
O Instituto da Cultura Europeia e Atlântica (ICEA), sediado na vila, assume uma posição praticamente única como instituição cultural, realizando conferências, colóquios e exposições, muitas das vezes em espaços cedidos pela autarquia. José Freitas, Presidente do Instituto, fala-nos um pouco sobre este galardão que, acredita, “só traz coisas positivas para o ICEA, uma vez que pode potenciar a que venham mais pessoas e a preocuparem-se.”
Exposição ICEA – ph. João Maria Jorge
São muitos aqueles que, diariamente, contribuem para que este galardão continue a ser uma realidade. O futuro traz os desafios próprios do tempo e é urgente que não se deixe cair em esquecimento tanta tradição e beleza natural. A oferta turística diferenciadora, alicerçada na qualidade das praias, também constitui um dos principais motores sócio-económicos da vila e, como nos diz Márcio Barros da APPER, “O turismo pode trazer o interesse pelas nossas tradições, levar a nossa cultura para outros lugares.”
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