5 minutos com Ryan Lovelace

Ryan Lovelace Ericeira. - ph. Rui Ribeiro/Magic Quiver

 

Texto: Ricardo Miguel Vieira | Fotografias: Mario Wehle/Magic Quiver

 

Ryan Lovelace é um dos shapers independentes mais reputados do mundo. Aos 27 anos, o criador de pranchas proveniente de Santa Bárbara, Califórnia, está pela terceira vez na Ericeira, a segunda a criar pranchas exclusivas.

Para o norte-americano, a escassez de shapers independentes na Ericeira deve-se à falta de uma cultura roots ligada ao surf, tal como existe no seu país. Contudo, diz que há mudanças que já são visíveis e que os mais novos surfistas que passam pela Ericeira já começam a dar um novo olhar a diferentes formas de andar nas ondas.

Entre o pó da espuma dos moldes das pranchas, Lovelace ainda falou à AZUL sobre sua relação especial com a Ericeira, como esta é a vila onde mais gosta de vir para shapar, apesar da diversidade da flora, que o tramou num destes dias devido às alergias primaveris.

 

O que te traz à Ericeira?

Há quatro anos fiz a minha primeira viagem a outro país para shapar e foi através da Magic Quiver, aqui na Ericeira. Por isso, foi o primeiro sítio onde estive a criar pranchas e, no Verão passado, voltei cá e agora cá estou de novo. É a minha segunda vez a criar pranchas aqui, a terceira a visitar.

 

O que estás a achar da Ericeira nesta terceira visita?

Gosto imenso da Ericeira. Costumo dizer às pessoas que, de todos os países que visito para shapar, Portugal é sempre o mais confortável, simplesmente adoro as pessoas aqui. Além disso, esta foi a primeira vez que tive oportunidade de realmente ver a vila e surfar. As vossas ondas são incríveis. Tinha visto fotos das ondas aqui, são fantásticas, mas apanhei sempre más ondulações. Mas ontem [quarta-feira] estava excelente. Fiquei mesmo “oh shit, há ondas ali, ondas ali e ali… raios!” Fiquei mesmo contente.

 

Já surfaste por aqui?

Sim, foi realmente divertido esta manhã [quinta-feira]. Não sei os nomes exactos dos spots, só conheço o de Backdoor porque dá para ver da casa do Nico, então estou sempre a olhar para ele. Ontem esperámos demasiado tempo porque estava mesmo mal das alergias*, nem os olhos abria, por isso perdi o surf da manhã. Mas hoje estava muito bom, super clean.

 

O que gostas mais na Ericeira?

Gosto muito do Nico, ele é divertido de se estar, é rídiculo (risos). Gosto da vila, de todas as cores, dos estímulos que me dá. Depois há todas as texturas da vila, é muito bonita. E, claro, o pão com chouriço. Como pelo menos um por dia.

Oh shit, há ondas ali, ondas ali e ali…raios!

Que paralelismos estabeleces entre a tua cidade, Santa Barbara, e a Ericeira?

As plantas! Estou a brincar, elas são terríveis!* Há muitos pointbreaks (fundos de rocha) aqui e todos eles muito diferentes, há muitas ondas pesadas por aqui. Para além do mar, as pessoas são mais tranquilas. Não se trata de uma cidade saturada de publicidades e merdas, há um sentido de pertença à terra. Não creio que as pessoas se mudem para aqui para se tornarem milionárias, tal como em Santa Barbara, embora esta seja uma das cidades mais ricas do país. É estúpido e nojento, então, nesse aspecto, são muito diferentes.

 

O que é a Shapetastic Voyage?

Comecei isto há uns quatro ou cinco anos, a visitar países para shapar e pagando as viagens com as pranchas que vendo. Isto tornou-se metade do meu ano, fiz disso parte de minha vida porque sempre quis viajar da Califórnia para Europa e visitar com calma. É rídiculo quando um shaper vai a um sítio, fica uma semana e vai embora.

 

A Ericeira é a capital do surf em Portugal, mas nem por isso existem aqui muitos shapers independentes. O que achas disso?

É porque o Nico [Wavegliders] é melhor que todos os outros e ninguém pode competir com ele (risos). Não sei, desconheço a indústria aqui, nunca estive muito envolvido com ela. Daquilo que posso compreender, vendo a Europa como um todo, sempre tiveram por referência a Austrália e os EUA, centros mundiais do surf. E uma pessoa quer sempre a prancha que um atleta usa ou aquilo que ele diz que é melhor para andar. Se não tens uma longa e enraizada cultura de surf, como na América – onde se prolonga há muitos anos –, então olhas para onde está o boom do surf, onde estão os profissionais e os campeonatos. Depois há toda uma cultura de importação de pranchas. Sei que aqui é um pouco difícil aceder aos materiais para fazer pranchas, mas não é nada do outro mundo. Creio que isso agora está a mudar, há miúdos que estão a abrir os olhos. Vai tornar-se mais interessante de ver de agora em diante.

 

Para onde vais a seguir?

A seguir rumo a casa, estar com a minha namorada e família, até porque faço anos. Devo ficar por lá pelo menos um mês.

 

Quando pensas voltar?

Ainda não tenho planeado, mas provavelmente algures por esta altura no próximo ano, tal como já é costume.

 

* – Ryan esteve de cama na quarta-feira devido às alergias de Primavera.

Ryan Lovelace Ericeira. - ph. Rui Ribeiro/Magic Quiver