Fotografia: DR e Pedro Mestre/Moche (em cima)
Ana Sarmento é um dos destaques da Liga Moche 2014. Aos 21 anos, a surfista da Ericeira está no terceiro lugar do ranking do circuito nacional de surf, a uns escassos 330 pontos do primeiro lugar. Contudo, a prioridade da estudante de Psicologia do Desporto e do Exercício, na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, é mostrar o seu surf e chegar o mais longe possível nas competições, sempre sem a pressão de vencer.
Segue-se o Sumol Porto Pro e, apesar de não poder treinar com a regularidade que gostaria, a motivação para correr atrás de um bom resultado está no ponto mais alto. Numa paragem em que já conseguiu o melhor e o pior, Ana Sarmento prefere competir sem expectativas e, mesmo com o primeiro lugar da classificação geral a curta distância, considera que é ainda cedo para se definir as reais candidatas ao título nacional.
Como é que te correu o Allianz Ericeira Pro?
Gostava de ter feito melhor. Sentia-me a surfar bem, se calhar foi dos campeonatos em que senti o meu surf mais no pé. Surfei a semana toda antes do campeonato, porque estava de ferias, e adorei todas as surfadas. Diverti-me imenso no campeonato, sendo em Ribeira [d’Ilhas], a onda onde aprendi a surfar e que me dá uma pica extra, até porque surfar Ribeira só com quatro pessoas é quase impossível.
Aquela interferência na final é que deitou tudo a perder…
A interferência foi mesmo distracção. Ribeira é a minha casa, por isso penso que as ondas são todas minhas!
Como têm corrido os treinos para a terceira etapa da Liga Moche?
Tem sido mais complicado treinar para este campeonato do que para os outros dois. Como estou longe do mar [estuda em Rio Maior], surfo só uma vez por semana e nos fins-de-semana. O que tenho feito são treinos físicos, onde sinto, neste momento, que é onde devo apostar, visto que fazer surf todos os dias é impossível.
E a motivação nesta altura, como está?
Tenho estado bastante motivada, não pelos resultados em si, mas em mostrar o meu surf e representar o melhor possível os meus patrocinadores.
Quais são as tuas expectativas para o campeonato?
Dos campeonatos do Porto já não espero nada. Já perdi à primeira, como já ganhei, por isso não tenho expectativas.
Que objectivo traçaste para esta etapa?
Como os campeonatos já não são a minha prioridade, não tenho em mente o primeiro lugar. Quero simplesmente tentar mostrar o meu surf e ir o mais longe que conseguir. O surf feminino está cada vez mais forte, qualquer uma pode ganhar. Sinto que sem estar a treinar é difícil atingir um primeiro lugar.
Então que prioridades tens traçadas?
Acabar a licenciatura. Em relação ao surf, claro que vai ser sempre uma prioridade na minha vida, surfar e evoluir, não pela competição em si, mas porque adoro e porque me faz bem.
Esperavas estar na luta pelo primeiro lugar da Liga nesta altura?
Acho que ainda é muito cedo para já estar a falar em título. Como já disse, não é a minha prioridade lutar pelo título, o que não quer dizer com isto que me seja indiferente, até me dá um prazer extra.
O que é que mudou, no teu surf ou vida, do ano passado para este, para agora estares na luta pelo título?
Nesta altura, no ano passado, faltei à primeira etapa, em Carcavelos, porque me lesionei. A segunda, que foi no Porto, perdi na primeira ronda e, portanto, espero que não seja um sinal negativo para este campeonato. No geral, a minha vida mudou porque entrei na faculdade e agora tenho muito menos tempo para surfar, mas, como o meu curso está ligado ao desporto, tem-me dado umas bases importante que aplico antes, durante e após a competição, o que se calhar até tem ajudado na minha performance.
Quem achas que é favorita a ganhar o campeonato?
Qualquer uma, estão todas a surfar bem.
Conta-nos muito brevemente como e quando começaste a surfar.
Comecei no evento do Billabong Girls [em 2004] e quando me mudei para a Ericeira [em 2004] o surf entrou na minha vida com imensa força. Desde os 12 anos que faço surf, aprendi em Ribeira D’Ilhas com o [José Maria] Pyrrait, que depois ficou meu treinador. Agora que já não treino, surfo com o meu pai e a minha irmã. É coisa que adoro fazer!
Adoro o Inverno na Ericeira, é sempre super tranquilo e relaxante, sem confusão e com ondas incríveis sem crowd.
O que te motivou?
Sempre gostei imenso de praia, para mim não havia nada melhor que passar o dia todo na praia. À medida que fui crescendo, e após a minha família se mudar para a Ericeira, senti a necessidade de aproveitar a praia e daí começar a ter o interesse de fazer algum desporto de mar. Foi pela influência do meu pai [Diogo Sarmento], surfista local e de longa data na Ericeira, que comecei e rapidamente se tornou numa das coisas que mais gosto de fazer.
Quais são as tua influências?
O meu pai e a minha irmã, que são os meus melhores companheiros de surf. E o Pyrrait, com quem mantive uma enorme amizade e cumplicidade mesmo quando deixou de ser meu treinador. Ainda hoje continua a ajudar-me e dar-me dicas sempre que preciso.
Que importância tem a Ericeira na tua vida e no teu surf?
Adoro a Ericeira e neste momento não me imagino a viver em outro lugar. Para mim tem qualquer coisa mágica, adoro o Inverno na vila, é sempre super tranquilo e relaxante, sem confusão e com ondas incríveis sem crowd. O Verão é super divertido. É verdade que por vezes me passo da cabeça com a enchente de pessoas, mas sei que é só por três ou quatro meses.
Qual é o teu spot favorito na Ericeira?
Para mim cada vez é mais difícil escolher o meu spot preferido entre Ribeira D’Ilhas e os Coxos. São duas direitas onde sinto que o meu surf encaixa e as manobras saem com naturalidade. Ribeira D’Ilhas foi onde aprendi a surfar, é a minha casa, logo sinto um à-vontade enorme com esta onda. Os Coxos é uma onda que, mesmo quando está pequeno, qualquer pessoa sai da água a achar-se o melhor surfista de sempre, tem umas paredes enormes e sempre em pé. Já quando está grande, o ambiente dentro de água com os locais é fantástico, nunca senti isso em mais lado nenhum. Adoro-as de igual forma, acho que vivia só com estas duas ondas!
Que planos tens para o futuro próximo?
Já fiz muitos planos, mas neste momento tenho deixado a minha vida correr naturalmente sem pensar muito em planos de longo prazo. Agora só quero acabar a licenciatura e continuar saudável e cheia de pica para surfar.
