Fotografia: DR
O trono eucarístico da Basílica de Mafra (em madeira de carvalho do Norte, pintada, do Século XVIII), recentemente restaurado, vai ser apresentado hoje numa cerimónia religiosa, informou fonte religiosa à agência LUSA.
Este “monumental trono de Quinta-Feira Santa, em madeira policromada e dourada, que esteve parcialmente montado numa das salas da galilé da basílica”, foi recuperado por iniciativa da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra (RVISSM), que organizou, em parceria com a paróquia local de Santo André, uma subscrição pública para este efeito.
O trono, agora recuperado, “é devolvido à sua função catequética e poderá ser admirado na Quinta-feira, pelas 21:00. De realçar que este trono só é preparado no seu esplendor uma noite por ano, no final da Missa de Quinta-Feira Santa”.
Segundo a RVISS, o trono terá sido uma encomenda de D. João VI, e “obedece às normas litúrgicas, que eram seguidas na basílica de Mafra desde o reinado de D. João V, que a mandou erigir”. “Os preceitos adoptados para a sua montagem e exposição solene, na actualidade, obedecem aos mesmos preceitos desde 1730”, ainda segundo a Irmandade.
O trono “era montado na capela do Santíssimo Sacramento na Quinta-Feira Santa, para nele se depositar o Santíssimo, iluminado por 440 velas, ou seja, mais de 62 arrobas de cera – o que corresponde a cerca de 950 quilogramas -, sendo encimado por um dossel primorosamente bordado e o retábulo do altar que fica por trás é coberto por um espaldar idêntico”.
“Naturalmente, já não temos necessidade de recorrer às 440 velas, porque naquele tempo não tinham acesso a flores como hoje temos, e usamos muito menos velas, que são intercaladas com flores”, disse à Lusa fonte da RVISSM.
“A intervenção de conservação e restauro esteve a cargo do atelier Santo André – Conservação e Restauro de Bens Culturais, e contou com o apoio do Palácio Nacional de Mafra-Museu, da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Mafra, e da Escola das Armas de Mafra”, segundo comunicado da RVISSM, enviado à agência Lusa.
A irmandade sublinha que “a colaboração entre todas as instituições (…) permite a devolução de objectos e tradições mafrenses aos fiéis e aos visitantes daquele monumento nacional, tornando a Basílica Nacional de Mafra um dos poucos locais em Portugal onde é possível admirar muitas das tradições centenárias da Semana Santa portuguesa”.
O trono eucarístico esteve parcialmente montado numa das salas da galilé da basílica, tendo sido possível ao público acompanhar o seu restauro, segundo a irmandade.
Esta congregação foi já responsável pelo restauro de outras obras de arte da Basílica de Nossa Senhora e Santo António, em Mafra, nomeadamente a braseira do “Fogo Novo do Sábado Santo”, utilizada no Sábado que antecede o Domingo de Páscoa, e o manto de seda bordado a ouro, da imagem de Nossa Senhora da Soledade, onde foram encontrados pedidos “escritos por jovens raparigas”, invocando a intercessão divina.
Em Outubro de 2017, também por iniciativa da RVISSM, foram expostos os ornamentos encomendados nos reinados de D. João V e D. João VI, como revestimentos de varandim e frontais de altar, “dada a excepcionalidade do tricentenário do lançamento da primeira pedra” do convento, que se cumpriu em 2017. Estes panos de ornamento são apenas colocados de 17 em 17 anos.
A Real e Venerável Irmandade promoveu, em parceria com a editora Zéfiro, a publicação da obra “Mafra Sacra – Memória e Património”, que conta com a colaboração de vários investigadores, entre os quais Teresa Leonor Vale e José de Monterroso Teixeira.