Fotografias: José Guerra
No excerto deste artigo falámos em emoções mistas num duplo sentido: não só foi um dia em que houve competição feminina e masculina como entre as hostes nacionais se assistiu a uma divisão de estados de alma: se nas raparigas Teresa Bonvalot terá regressado a casa com um estado de alma bem mais reluzente do que Carina Duarte, entre os rapazes também se repartem os sentimentos. Embora neste caso ninguém tenha dado por encerrada a sua participação no Allianz ASP World Junior, uma vez que o round inaugural não é de eliminação, enquanto Tomás Fernandes e Vasco Ribeiro avançaram directamente para a terceira ronda, poupando assim desgaste e risco, João Kopke e Miguel Blanco têm de ir ao “mata-mata” já no segundo round, após ficarem em 3º e 2º lugar, respectivamente, nas suas baterias.
O dia voltou a arrancar com as meninas na água, mas ao contrário do que chegou a ouvir-se na véspera, ainda não foi hoje que se consagrou uma campeã mundial, uma vez que a seguir aos quartos-de-final a organização lançou a primeira ronda dos rapazes, que avançaria até ao 12º heat. No primeiro dia em modo “horário de Inverno”, a forte ondulação matinal, com sets de quase dois metros, foi caindo ao longo do dia. A prova começou logo pelas sete da manhã, com a 4ª ronda feminina, e trinta minutos mais tarde seria a vez de Carina Duarte entrar em acção. A atleta da Ericeira terminaria a sua participação no campeonato frente a Tessa Thyssen, num heat com scores totais baixos: 9,83 para a campeã europeia em título face aos 8,33 de Carina.
Melhor sorte haveria de ter Teresa Bonvalot. No 4º heat da manhã, a campeã nacional avançou frente à norte-americana Meah Collins num heat muito emocionante. Após ter arrancado 7,67 pontos já perto do fim, a balança pendeu para o lado de Bonvalot, que amealhou 11,84 pontos contra os 11,06 da adversária, atingindo, assim, os quartos-de-final. Nesta fase, a portuguesa encontrou a havaiana Mahina Maeda, num heat também bastante disputado (13,50 de Maeda contra 12,06 de Bonvalot) e no qual “Teresinha” até fez a melhor onda da bateria, pontuada com 7,83. Ficou a faltar-lhe um backup mais alto para atingir as meias, mas ainda assim conseguiu o 5º lugar no campeonato, posição ainda mais expressiva se pensarmos que Teresa Bonvalot conta apenas 15 anos e esta competição integra as melhores surfistas sub-20 a nível global.
No final da sua caminhada no Allianz ASP World Junior, falámos com Teresa Bonvalot sobre tudo o que alcançou na presente temporada (mais jovem campeã nacional de sempre, ao que juntou o título Pro Junior nacional, o 3º posto no Pro Junior europeu e agora este resultado) e o balanço da atleta só podia ser “muito positivo”. Tendo apenas 15 anos, a conquista do chamado WCT Junior “é um objectivo que está nos planos. Tenho que me qualificar no circuito Pro Junior europeu para atingir a final e aí dar o meu melhor”, afirmou, com ambição mas os pés bem assentes na terra.
Entre o restante contingente feminino, destaque para as eliminações-surpresa da nº 1 do seeding e top 10 do WQS do campeonato, Keely Andrew (frente a Tessa Thyssen), e de Ella Williams (a campeã mundial júnior em título) face a Bronte Macaulay. As meias-finais vão opor Chelsea Tuach a Tessa Thyssen e Mahina Maeda a Bronte MaCaulay.
Antes da hora de almoço, já estava na água a primeira ronda masculina e, como começámos por referir, entre os portugueses destacaram-se Tomás Fernandes e Vasco Ribeiro. No 7º heat, Tomás colocou em prática o seu local knowledge (e categoria técnica) frente ao sul-africano Mathew McGillivray e ao japonês Hiroto Ohhara. Tomás não começou logo na liderança, mas a partir de meio do heat encontrou o ritmo certo para fazer as suas duas melhores ondas: um 7,17 que o colocou na frente e, já mais perto do final da bateria, um 5,57 que lhe deu mais segurança. Ainda houve alguma incerteza quanto ao resultado final quando Mathew McGillivray finalizou uma boa onda com um air reverse. A onda seria, contudo, pontuada com 6,40, o que somado ao backup de 5,07 não chegou para roubar a vitória ao surfista da Ericeira. No final, Tomás somou 12,74 pontos face aos 11,47 do sul-africano e aos 10,50 do japonês. Três heats depois entrou em cena Vasco Ribeiro, e o único português que assegurara acesso directo a esta prova (ao sagrar-se campeão do Pro Junior Europeu) superiorizou-se a Slade Prestwich e a Matheus Navarro. Os 14,60 pontos de “Vasquinho” deixaram o sul-africano em 2º (com 12,00 pontos) e o brasileiro em 3º, com um score de 10,67.
Nos oito heats disputados sem a presença de portugueses, realce para a armada japonesa (quatro dos seis representantes do país do sol nascente avançaram directamente para o round 3), para o excelente surf mostrado pelo havaiano Joshua Moniz (com 17,33 pontos detém até agora o melhor score da prova) e ainda para o facto de o norte-americano Kanoa Igarashi ter que disputar o segundo round, após não ter conseguido melhor que o 2º posto no seu heat.
As previsões para amanhã apontam para uma subida do mar e vento fraco de sudeste. A chamada dos atletas está marcada para as 06:30 horas.