O Inverno de todas as tempestades

 

 Fotografia: Eduardo Ulrich

 

Hoje assinala-se o fim do Inverno no hemisfério norte, em que Portugal se inclui. Foi uma temporada fria e escura, como é habitual, mas também de constantes tempestades, o que já não é muito normal no nosso país. Começou com o Hércules, a tempestade mais poderosa a atingir a Ericeira nos últimos 15 anos; depois vieram Ruth e Stephanie, já com menos força, mas igualmente perturbadoras.

A Ericeira é uma das muitas zonas do país onde as tempestades alteraram o panorama do litoral, quer no seu recorte, quer nas infra-estruturas que se viram afectadas pelo mau tempo. Hoje, a Foz do Lizandro está irreconhecível – a praia praticamente não existe e a foz do rio Lizandro estende-se ao largo de toda a praia; além disso, a areia levada pela força do mar deixou a descoberto uma laje há décadas escondida; a praia dos Coxos e a Empa são outras das praias transfiguradas, tal a quantidade de areia que desapareceu, revelando rochas e pedregulhos escondidos; no Algodio e Sul, bares e restaurante foram arrasados.

Na edição deste mês da revista Surf Portugal, um artigo de Susana Santos cita Tony Butt, surfista de ondas grandes doutorado em Oceanografia e autor do livro “Surf Science: An Introduction to Waves for Surfing”, que explica como as variações da pressão do ar ao nível do mar no Atlântico Norte influenciam a temperatura à superfície, a precipitação e o vento no continente europeu.

Butt esclarece que tudo se trata de “duas-fases” [sic], uma fluída e outra bloqueadora. A primeira significa “ondas grandes, ventos de Oeste e clima suave”; já as condições “bloqueadoras” trazem “mar flat, ventos de Leste e clima frio.” Este Inverno, ficámos presos numa fase fluída mais tempo do que é habitual.

Aquele que foi dos piores invernos de que há memória termina hoje, deixando para trás vendavais nunca antes registados – em Portimão foi verificada uma rajada de 175 km/h a 17 de Janeiro, valor nunca antes assinalado –, ondulações gigantes – acima dos quatro metros de altura com períodos de vaga de 20 segundos, chegando à costa ondas até 10 metros –, destruição e prejuízos. Agora é tempo de recordar as raras e espectaculares imagens que o temporal proporcionou e começar já a celebrar o regresso do Sol e do calor.

FOTOGRAFIA

Eduardo Ulrich: #1-4

José Guerra: #5

Luís Rodrigues: #6-8

AZUL: #9

Nuno Vicente: #10-14

Manuel Lemos: #15

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