Leituras Com ADN #3

 

Texto: Filipa Teles Carvalho | Fotografia: DR

 

Livros recentemente dados à estampa, com a Ericeira e Mafra dentro. Para conhecer, saborear ou oferecer. Porque ler é poder e, também, um enorme prazer.

O sabor da História, o cheiro da urze e o mistério de uma floresta encantada aqui tão perto, com este nosso ADN.

 

«…Um livro de leitura indispensável para quem queira conhecer (e perceber) a importância da Tapada de Mafra.» – Eduardo Pitta

 

«É como se estivéssemos a entrar num local de culto, num santuário misterioso, frio e quente, escuro e claro, algures onde o imprevisto pode sempre acontecer (…) É chão de terra macia, debruado por árvores enormes com cabeleiras de verde, com corpos de troncos muito fortes, de braços abertos e amplos, sempre prontos a abraçar (…) Deveremos manter o silêncio para não perturbar a densidade da floresta e toda a sua vida. O respeito será sentido.»

As fabulosas histórias da tapada de mafra - ph. DR

Escrever que «As fabulosas histórias da Tapada de Mafra» é um livro-guia para bem conhecer o local não é faltar à verdade. Na obra apresentam-se factos e trilhos desta floresta encantada, tão perto da cidade. Conta-se sobre vizinhança imponente e rica em História – o Convento –, entre outras molduras que nos transportam do quotidiano dos reis ao nosso, sem faltar ao rigor de elementos importantes para entender estas geografias.

Mas a obra é muito mais do que essa mão que nos leva, do que esse possível “roteiro”. O livro contém a essência da Tapada que a autora captou e sentiu. Para o escrever, Cristina Carvalho passou ali muitas horas, muitos dias e muitas noites sem dormir. A escutar, a apurar os sentidos, a conhecer habitantes, a medir daquela terra a pulsação. A conhecer a Tapada de Mafra.

O resultado é um livro onde sabemos das árvores e muitos seres que ali reinam e nos encontramos com visões e cheiros, numa escrita onde está bem vivo o pensamento, mas também o poético e o onírico. Há espaço para o divertido, para as perguntas e respostas e também, muito, para o assombro.

 

«Sim! Sentiremos a rotação da Terra, é verdade! Sentimos a Terra a girar como gira o nosso pensamento.

Mas para que isso aconteça é preciso encontrar a tal floresta, a tal árvore, a tal noite, a tal paz.»

 

Entramos em territórios onde não só o real se festeja mas também o imaginário segue connosco e a Literatura acontece entre folhas de papel, as palavras e o rumor da folhagem.

Encontramos também o bulício mais mundano de quem vai, da família que se decide por uma visita à Tapada, programando piqueniques especiais.

Por entre a incrível variedade de seres, animais e vegetais que nos são apresentados estão a javalina Fifi, com pestanudos olhos cor de laranja que imediatamente nos conquistam, «o velho lobo de Mafra, o caçador da noite», Elvis, o bufo-real, e lemos ainda sobre «a voz do veado ou do gamo. A brama.».

É uma obra sem idade, como acontece com os bons livros, que pode ser saboreada em família, na solene noite da Tapada ou na solidão que se deseja acompanhada de um livro em qualquer lugar; sempre que se queira voar numa floresta entre páginas que podem mesmo parecer folhas a restolhar.

 

«(…) A floresta é densa, todas as cores existem aqui. O coração palpita quando a floresta exige, quando a floresta ordena.».

 

Cristina Carvalho nasceu num mês de Novembro, em Lisboa, mas escolheu a zona Oeste para viver há já vários anos.
Publicou 14 livros, muitos deles incluídos no Plano Nacional de Leitura.
Entre as suas obras mais conhecidas encontram-se «O Gato de Upsala», «Ana de Londres», «O Olhar e a Alma, romance de Modigliani» (Prémio Autores 2016), «Até Já Não É Adeus» – uma reedição recente daquele que foi o seu primeiro livro, em 1989, agora dado à estampa pela editora Relógio D’Água.
Foi ainda publicando contos em várias revistas e jornais.

Cristina Carvalho - ph. DR

«As fabulosas histórias da Tapada de Mafra»
Cristina Carvalho
Fotografia de Nanã Sousa Dias
Ilustrações científicas de Teodora Boneva.
Sextante Editora