Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografias: DR
Ana Figueiras (cantora e guitarrista) e o multi-instrumentista João Sousa partilham um rico percurso musical, entre bandas próprias e colaborações com artistas de vulto, e desde finais de 2013 que se juntaram em redor de folk, country e murder ballads para construírem a linguagem do projecto The Drowning Bride. Com menos de um ano de existência, já passaram por um dos maiores festivais de música que se realizam em Portugal, mas confessam preferir ambientes intimistas como aquele que encontraram há uma semana na Adega Bar 1987, onde deram um concerto arrebatador. E, pelo que nos adiantaram, além de terem álbum de estreia na forja, em Julho estarão de regresso à Ericeira…
Quando penso em murder ballads, vem-me logo à cabeça o Nick Cave. É uma referência para vocês? Que outras inspirações têm neste campo?
Ana Figueiras: Conheço o álbum do Nick Cave, mas não foi influência. As influências para o disco vêm de muito antes. De histórias do folclore americano, de histórias que vêm passando de geração em geração. As inspirações são música de escravos, músicas religiosas e histórias da época da Grande Depressão. Também a música que os colonos trouxeram para os Estados Unidos, que já vem do folk irlandês.
E na música folk e country, quais são as vossas principais referências?
Ana Figueiras e João Sousa: Emmilou Harrys, Joan Baez, Joni Mitchel, Bob Dylan, Gillian Welch.
O que nos podem dizer sobre o vosso disco de estreia?
Ana e João: Tentámos abordar este género musical (folk) com uma sonoridade e instrumentos diferentes, abordar letras pesadas muitas vezes com finais dramáticos e complementá-las com uma música mais melodiosa e não tão pesada como as letras. Também achamos que são canções que ficam no ouvido. Gravámos o disco em Viana do Castelo porque para além de ser a terra da Ana, foi lá que foram escritos os primeiros temas e também porque os músicos que participaram no disco são de lá e compreendem a linguagem.
Como conseguem transmitir uma personalidade e maturação tão elevadas para um projecto com apenas seis meses?
Ana e João: Para além de já termos tido outros projectos musicais em separado que nos trouxeram alguma maturidade em palco, pensamos que isso vem também de termos encontrado uma grande cumplicidade um com o outro e de muito trabalho de casa por via dos ensaios.
Tentámos abordar a folk com uma sonoridade e instrumentos diferentes, letras muitas vezes com finais dramáticos e uma música melodiosa.
Como foram parar ao Rock in Rio com tão pouco tempo de existência?
João Sousa: Numa reunião de trabalho onde me pediram projectos de animação para a Rock Street do Rock in Rio, mostrei ao director o projecto The Drowning Bride e ele ficou interessado. Este contacto foi um acaso que aconteceu num jantar de amigos onde falávamos do projecto e aconselharam-nos. Por coincidência, foi a primeira data que fechámos, embora tenhamos depois actuado várias vezes antes de pisarmos o palco EDP da Rock Street.
Foi difícil a transição de tocarem num festival gigante como o Rock in Rio para o espaço intimista da Adega Bar 1987? Onde se sentem mais confortáveis?
Ana Figueiras: Não foi difícil pelo facto de nos sentirmos mais em casa quando actuamos em ambientes intimistas e familiares, como é o caso da Adega. De qualquer modo, sentimo-nos igualmente bem a actuar em palcos maiores, embora estivéssemos expectantes em relação à aceitação do público, visto o Rock in Rio ser um festival mais direccionado para o rock. Em todo o caso, o ambiente da Adega Bar para nós é o ideal pois estamos mais perto das pessoas.
O João Sousa é um multi-instrumentista como é raro ver. Desde quando exploras essa polivalência?
João Sousa: Comecei por tocar guitarra com 11 anos e aos 13 comecei a aprender percussões numa filarmónica. Toquei em alguns projectos como percussionista, mas como tinha uma vontade de tocar um instrumento de sopro, há dez anos decidi aprender clarinete e estudei dois anos no Hot Club. De resto, não conseguia viver a fazer sempre a mesma coisa. Sou um curioso e apaixono-me pelas coisas que me proponho fazer.
Nunca vos confundiram com os My Dying Bride?
Ana Figueiras: Não. Já tinha ouvido falar dessa banda, mas não tem nada a ver.