Fotografia: AZUL
“Quero ser uma grande surfista”, anuncia Martha Styren, 29 anos, numa clara manhã de Julho. Martha está a tomar o pequeno-almoço com a praia do Sul como pano-de-fundo juntamente com duas amigas com quem veio de Dusseldorf, Alemanha, para viver a Ericeira. Esta é já a segunda vez que visita a vila jagoz e disfruta das melhores ondas da Europa na Reserva Mundial de Surf.
Martha e companhia estão hospedadas no hostel The Wave, um pequeno alojamento com vista directa para o Atlântico que nasceu em Maio de 2013 com capacidade para albergar 15 pessoas. Aqui, o dia começou cedo, com uma refeição que inclui cereais, pão com doces regionais, café e sumos naturais, antecedendo uma aula de yoga, uma sessão de surf ou apenas um dia de praia. No dia anterior o grupo aproveitou para visitar o centro da vila e relembrar o ambiente típico jagoz. “É uma vila muito bonita, um lugar onde podemos passear e vemos imensos restaurantes e lojas típicas”, descreve Zoe Karastogianni, 39 anos, a única das três que ainda não conhece a Ericeira. “É tudo muito organizado e orientado para os turistas.”
As alemãs chegaram à vila há três dias atrás. Assentaram bagagens no hostel e partiram logo à descoberta dos recantos e praias da Ericeira, guiadas por Maren Lantermann, 29 anos, que completa agora uma mão cheia de visitas à vila. “É um lugar calmo com uma grande mistura de pessoas e famílias. Adoro as cores azuis e brancas, é simplesmente tranquilizante”, diz a professora de profissão. Nesta altura, já vibraram com a noite jagoz, correndo bares e restaurantes e aproveitando as festas locais que nesta altura enchem as ruelas da vila.
Contudo, foram atraídas para a Ericeira pela mesma razão que a maioria dos visitantes forasteiros que passam pela vila ao longo do ano: o surf. “Basicamente estou aqui por causa do surf. Isto é um spot fantástico para o desporto”, afirma Maren, estudante de Terapia Ocupacional, sumariando o sentimento subjacente ao grupo. “Ainda não sei bem se gosto de surf (risos), mas é algo que quero mesmo muito aprender porque adoro o mar”, confessa Martha, que trabalha em Contexto Social.
A conversa flui sonolenta, ao ritmo de quem acabou agora mesmo de acordar. Além disso, a noite anterior foi de festa: a Alemanha bateu o Brasil no campeonato do mundo de futebol, pelo que a felicidade está latente nos rostos destas figuras femininas, semelhantes pelos cabelos loiros e olhos claros.
Um pouco mais indiferente ao resultado do jogo está Daniel Geron, 26 anos, proveniente de Dafna, no norte de Israel. O que lhe interessa mesmo é o surf. “É um desporto fantástico, adoro a cultura em torno dele. As pessoas acabam por ser felizes, boa onda. É uma actividade onde só conto eu e o mar”, sublinha o estudante de Animação Socio-Cultural.
Geron experimentou surfar pela primeira vez há um par de anos atrás na Nova Zelândia. De visita ao país da Oceânia, acabou influenciado pela vibração surfer que se respira no país e nunca mais largou o desporto. Este ano prometeu a si próprio que ia fazer uma surftrip e escolheu a Ericeira como destino. Pelas ondas, pela paisagem (que viu em fotografias na internet) e pelas pessoas. “Os portugueses são muito parecidos com os israelitas porque têm sangue quente. Gostam de festa, de dançar, adoro isso. Estão sempre felizes”, conclui.
Dois dias depois do nosso pequeno-almoço, voltei a encontrar-me com estes visitantes bem cedo pela manhã. O objectivo é segui-los para uma aula de surf e espreitar como vivem o desporto e esta actividade cada vez mais turística na Ericeira. Só o Daniel Geron é que está acordado – as miúdas ficaram exaustas com a sessão de surf no Matadouro no dia anterior, pelo que preferiram recuperar energias. Às 8.20 horas da manhã chega a carrinha da Action Waves, uma das escolas de surf com quem o The Wave tem parceria. Geron, ainda azamboado por ter madrugado, segue caminho com a turma rumo a S. Julião.
Já na praia, o grupo perfaz um total de quatro pessoas. É uma política da Action Waves, ter turmas pequenas para que todos possam retirar o máximo dos ensinamentos e experiências no mar. Inicia-se a aula com um aquecimento e de seguida atiram-se ao mar para praticar o máximo possível a arte da deslizar nas ondas. Com um ambiente amigável e descontraído, onde o mais importante é apreender o prazer do surf, Daniel Geron não podia estar mais motivado. Sentimento intrínseco aos estrangeiros que provam as águas e o surf da Ericeira. “Estou pronto. Ainda estou meio cansado de ontem, mas a água fria já me desperta. Quero mesmo é surfar!”
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