“Sempre fui um apaixonado pela Ericeira”

 

Texto: Paula Alves de Brito e Hugo Rocha Pereira | Fotografia: Rodrigo Williams

 

No início deste mês recebemos Gustavo Santos na Ericeira Business Factory para uma entrevista. O escritor motivacional, orador, modelo e apresentador de televisão mudou-se recentemente para Casa Nova – Romeirão, nos arredores da Ericeira, e mostra-se encantado com esta região. Dos acasos que o trouxeram aqui, onde já começou a escrever o seu décimo livro, até ao programa “Querido, Mudei a Casa!”, desta conversa resulta o retrato dum homem multifacetado, que gosta de equilibrar as energias da acção e da meditação para viver a sua verdade.

 

Escolheste recentemente a zona da Ericeira para morar. O que te atraiu nesta região?

Sempre fui um apaixonado pela Ericeira! Por questões profissionais e logísticas, fui adiando essa vontade de cá estar e vivi em muitos sítios. Só nos últimos anos vivi em Azeitão, Carcavelos, Quinta da Beloura e Praia Grande. E agora cheguei aqui à Ericeira. Eu e a minha mulher andávamos a ver casas perto da Praia Grande, pois gostamos muito daquela zona, e conseguimos encontrar duas casas. Contactei as imobiliárias, que me disseram “claro, Gustavo, vamos já fazer agendamento das visitas para mostrar as casas.” Quando estou a caminho para ir ver as casas, ligam-me e dizem que ambas as casas foram vendidas!

Acredito numa coisa: como sou um homem de muita acção, quando coloco a minha energia em alguma coisa, mesmo que ela esteja estagnada, aquilo vai mexer! Às vezes ganho e fico com aquilo, outras vezes acabo por perder, mas o perder é muito subjetivo porque se o perdi, é porque não era para mim. E resolvo as coisas muito rapidamente. Nesse dia vim à feira do livro da Ericeira para uma sessão de autógrafos, pelo segundo ano consecutivo. Estou a chegar aqui e a minha mulher diz “Olha, e a Ericeira?” Ela nunca foi fã da Ericeira porque era completamente vidrada na Praia Grande. E eu disse-lhe “Amor, a Ericeira nunca foi um sítio de que gostasses… Eu gosto e nunca te falei desta opção porque sabia que tu não gostavas. Mas agora que falas nisso, quando chegarmos a casa do nosso casal amigo, vou já perguntar se eles conhecem alguém que trabalhe numa imobiliária.

Isto foi literalmente assim: bato à porta, digo boa noite às pessoas e logo a seguir pergunto: “Vocês conhecem alguém que trabalhe aqui numa imobiliária?” E o meu amigo Tiago diz “Eu! Há 15 dias.” E passámos o jantar, antes da Feira do Livro, a ver casas. Isto foi a um Sábado e na 2ª-Feira viemos cá. Mostrou-nos oito casas, mas não mostrou a casa onde estou agora. Mostrou-me a casa duas acima daquela onde estou agora. Mal entrei naquela rua, senti “É isto que eu quero! Porque isto é um beco sem saída, é natureza por todo o lado, estou muito perto do mar, de infantários, de escolas, de supermercados, muito perto da paz, dentro da paz”. Vi essa casa e disse-lhe que queria ficar com ela! E ele disse-me “Se gostas desta casa e desta rua, deixa-me mostrar-te duas casas abaixo.” Entrei nessa casa e passei-me… Sabes quando tu entras num sítio e sentes que o sítio te acolhe… e a vida mostra-te que o teu caminho é por aqui e não é ali por cima, duas casas acima…

Chegámos em Outubro e estamos a viver uma experiência extraordinária. Estou verdadeiramente feliz por estar aqui. Não consigo conceber-me a viver em mais lado nenhum em Portugal. No mundo, talvez, até porque sou claramente um homem do mundo, nada de apegos a lado nenhum e a ninguém. Claro que quero caminhar com a minha família, essa é uma escolha prioritária, mas se tiver que viver uma temporada aqui, uma temporada ali, para mim é fácil, pois eu escrevo e escrevo em qualquer parte.

Gustavo Santos - ph. Rodrigo Williams

Chegaste, então, ao melhor sítio?

Cheguei mesmo! Falávamos há pouco sobre as pessoas: há muitas pessoas que gostam de mim e há, claramente, outras pessoas que não me podem ver à frente, mas isso tem a ver com a missão que escolhi para a minha vida; e eu prefiro sempre viver a minha verdade, mesmo que isso acarrete algumas coisas menos positivas, do que andar a enganar-me. E é muito interessante andar aqui na Ericeira e as pessoas terem uma abordagem muito carinhosa. Acho que aqui há uma humanidade diferente… talvez o facto de se viver perto deste mar dê um outro tipo de energia às pessoas.

 

O que destacas nestes primeiros tempos?

A energia desta terra! Eu acho que isto é um dos pontos mais característicos. Adoro! A inspiração que isto me traz! Comecei a escrever o meu décimo livro agora, há duas semanas, e comecei na praia da Empa, dentro do carro a ver o pôr-do-sol, e toda a nota de autor é escrita enquanto o sol está a cair e isso é descrito no livro. A nota de autor começa enquanto o sol está a cair e termina com o sol já posto. Essa parte “inspiracional” é muito importante para mim. Como disse antes, a humanidade das pessoas também é muito importante e, para além disso, come-se muito bem! O peixinho daqui é extraordinário.

Comecei a escrever o meu décimo livro há duas semanas, na praia da Empa, a ver o pôr-do-sol

Identificas-te com a Ericeira?

Sim, identifico-me claramente! Em termos de valores, de energia, de natureza e da parte afectiva das pessoas!

 

Enquanto andas pelas ruas da Ericeira as pessoas reconhecem-te do “Querido, Mudei a Casa!” ou como escritor motivacional?

Aqui na Ericeira ainda será principalmente pela televisão, visto que o impacto é muito maior: o programa é visto por centenas de milhares de pessoas e os meus livros são lidos por dezenas de milhares de pessoas. É uma proporção completamente diferente. Acredito mesmo que a grande maioria das pessoas que me vê no “Querido” não sabe ainda que eu escrevo: já são nove livros e fui autor bestseller da área não ficção no ano passado. E acabo por perceber que não é possível transportar a personagem que faço no programa para um palestrante internacional de motivação. Ou seja, as pessoas não conseguem encaixar que aquilo é um personagem dum programa e acham que eu sou mesmo assim na vida real! Dentro do programa não faço nada porque vivo sempre em verdade comigo! Não gosto de lixo, não gosto de barulho, não gosto de estar a ouvir a martelar coisas. Portanto, no programa não ajudo nada. Mas as pessoas transportam aquilo para a vida real e pensam: “como é que este gajo, com uma personagem tão preguiçosa e tão desligada, pode escrever um livro por ano? Como é que ele pode dar palestras fora do país? Como é que ele pode chegar a dezenas de milhares de pessoas, em palestras ou em livros?” Percebo que esse alcance seja difícil de fazer para as pessoas, mas esta parte de escritor (e é aí que está a minha missão, não é na televisão) é uma caminhada de muitos anos. Tudo aquilo que alcancei nestes últimos tempos é fruto de onze anos de escrita. Publiquei o primeiro livro em 2006. E muitos mais vou ter que escrever para que as pessoas percebam. E depois, sou novo e sou giro, é muito difícil ligar todas estas coisas. Caí fora do padrão. Mas isso faz parte da minha missão, eu desci para que isso aconteça, para quebrar o padrão. Eu escrevi no meu segundo livro: “Se, como eu, sentes que não fazes parte deste mundo, deixa-te de pieguices porque tu só vieste cá por uma coisa: é para mudar isto! Mais nada!”

levo às pessoas aquilo que elas querem verdadeiramente encontrar

Qual a área que te faz sentir mais realizado?

A escrita, sem dúvida! Para mim é um privilégio ser tantas vezes convidado para dar palestras no Brasil, por exemplo. No ano passado fui lá três vezes e devo ter partilhado o palco com uns quarenta palestrantes, e eu era o único internacional, era o único português. Todos iam falar sobre empreendedorismo, sobre como ter um conta recheada, como é que podes desenvolver um projecto online, como é que podes ter saúde nas finanças. Tudo isso é interessantíssimo, mas não é nada disso que as pessoas buscam; e eu falava só sobre o amor. Eu era sempre o último a falar e sempre que fechava um evento as ovações eram de pé. Porquê? Porque levo às pessoas aquilo que elas querem verdadeiramente encontrar. Elas querem perceber o que podem fazer para se amar. O que interessa é irmos à base e perceber como é que eu posso perdoar aquela pessoa, como é que eu posso aceitar isto que me aconteceu, como é que eu posso aprender a amar incondicionalmente, como é que eu posso transformar uma coisa má numa coisa boa. Isto é o que as pessoas querem. Como é que eu posso começar a respeitar-me? Como é que eu posso dizer não lá em casa? Este é o trabalho que levo às pessoas. Aquilo que falo e aquilo que escrevo é unicamente a minha verdade. Porque, por muito mal que queiram dizer de mim, quando me entrevistam eu engulo-os porque não têm como me pregar uma rasteira. Eu carrego sempre aquilo em que acredito e aquilo que vivo.

Gustavo Santos - ph. Rodrigo Williams

É difícil sermos genuínos numa sociedade cheia de rótulos, padrões e protocolos?

É extremamente difícil, principalmente até perceberes que tens que vencer isso. E que isso vai ser uma luta interna. Eu já consegui vencer isso. Todos os dias me atacam, todos os dias me chamam nomes. Grande parte dos dias dizem coisas que eu não fiz, e isso para mim já é peanuts porque percebi que isso tem de acontecer para a minha mensagem continuar a passar. As pessoas fazem isto, contradizem o que eu digo e o que eu faço e depois em vez de lhes responder na mesma arma, com a mesma raiva, respondo-lhes com amor. Então, o que eles me estão a dar é uma oportunidade de mostrar que eu amo sempre! Portanto, isto tem que me acontecer! Por muito que isto às vezes me possa custar, é uma forma de passar a mensagem.

 

Sentes-te a distribuir amor e paz pelo mundo? É uma validação?

É uma validação interior, não exterior. Às vezes quando vou ao Brasil, por exemplo, digo assim: “malta, eu não estou aqui por causa de vocês, não venho aqui falar porque vocês precisam de me ouvir, o homem que vocês estão a ver aqui não é um homem que vos veio ajudar, o homem que vocês estão a ver aqui é um homem a viver o seu sonho. E é por estar a viver o meu sonho que posso inspirar-vos a viverem o vosso.” Então, é nesse sentido, nunca vou buscar a minha validação fora. Se fores sempre assim, vais ter sempre aquilo que queres. Esta é a minha mensagem interior. É para mim.

 

É possível mudar um mundo em que tantos factores não dependem de nós? Consideras-te um agente de mudança?

Posso falar-te de Jesus Cristo, de Mandela, de Luther King, Buddha, Gandhi: nenhuma destas entidades conseguiu fazer praticamente nada no mundo e olha quem eles foram… a história conhece-os, mas tu continuas a encontrar violência, rancor, inveja, egoísmo, egocentrismo, raiva, frustração, desilusão, tristeza, amargura, ódios, guerras… Ele vieram cá e mudaram a energia da terra, mas eles não a radicalizaram porque é impossível isso acontecer. Mas eu não tenho nenhuma esperança de que a minha passagem por aqui vá mudar isto. Nem eu quero isso, se eu quisesse isso não ia conseguir dormir todas as noites porque ia ver que não era capaz. Tudo o que temos de fazer desde que nascemos é fazer a nossa célula brilhar porque ela consegue iluminar as células que estão ao seu lado. É só isso. Eu não consigo fazer a tua célula brilhar, só tu é que consegues. Nós só nascemos para respeitar a nossa vontade, ninguém nasceu para ajudar os outros, ninguém nasceu para amar o próximo. Respeita a tua vontade e amar os outros é natural e ajudar os outros é natural. Na minha perspetiva, sou um agente de mudança porque faço a minha célula brilhar. Mas sei que não vou conseguir mudar nada porque para este corpo brilhar teremos que mudar todos. Na minha geração será impossível, na geração do meu filho será impossível, serão precisas muitas gerações para transformarmos este planeta medo num planeta amor. Temos que vir cá muitas vezes, reencarnar muitas vezes para continuar esta batalha.

sou um agente de mudança porque faço a minha célula brilhar

Acreditas na reencarnação?

Claro, como é obvio, desde sempre! Já cá andei varias vezes! Uns acreditam, outros não. E eu respeito quem não acredita! O que posso garantir é que aqueles que acreditam são muito mais felizes. Porque não têm medo da morte, não têm medo de praticamente nada. Estamos aqui à vontade, a morte é apenas uma transição. Não têm apegos. Há dois anos e pouco morreu uma das mulheres mais importantes da minha vida, a minha avó. Eu podia-me desfazer a chorar, mas o que chorei foi de gratidão, não foi de dor por ela se ir embora, por pena, zero. Quando a minha avó morreu, falei com a minha família toda que estava lá e disse: “malta, vamos todos celebrar! Fomos para casa da minha tia jantar e fizemos-lhe um brinde. Isto é uma passagem e há que aproveita-la. Há que respeitar as nossas vontades porque foi por isso que  nascemos. Ninguém nasceu para não ser o que é. Todos nós nascemos para ser aquilo que somos e nós somos as nossas vontades. Por que é que estou a trabalhar num sítio onde não sou feliz? Por que é que estou numa relação onde já não amo aquela pessoa? Porquê, se a minha vontade é outra? E qualquer um de nós pode mudar a sua vida num estalar de dedos. Cada segundo é uma oportunidade para mudar de vida. Se vai doer acabar um casamento? Vai doer muito, mas vai-te doer muito mais se ficares lá! Se podes ficar sem dinheiro quando largas um trabalho? Claro que podes ficar sem dinheiro. Então não largues já, mas podes criar um hobbie, paralelamente, que te permite olhar para o trabalho de outra forma e podes criar um plano B. Os meus livros sempre foram o meu plano B, daqui a muito pouco tempo serão o meu plano A, mas já passaram onze anos. Há sonhos que levam onze anos a serem concretizados.

 

No final da entrevista desafiámos Gustavo Santos a deixar uma mensagem para os leitores da AZUL. Veja o resultado neste vídeo.