Quatro ruas da Ericeira vão homenagear ilustres cidadãos

 

Fotografia: DR

 

Quatro arruamentos da Ericeira vão receber os nomes de outras tantas personalidades que se destacaram em diversas áreas da sociedade: José Caré Júnior, Leandro Santos, Rui Arsénio e Mário Silveira (todos eles já falecidos) serão os ilustres homens eternizados desta forma, numa iniciativa que já foi aprovada pelo Executivo da Junta de Freguesia e pela Assembleia de Freguesia da Ericeira.

De realçar que, destes quatro cidadãos, apenas um (Mário Silveira) não nasceu na Ericeira, vila que viria a adoptar como residência nas suas últimas três décadas de vida.

José Caré Júnior, Leandro Santos, Rui Arsénio e Mário Silveira assumiram um importante papel na História contemporânea da Ericeira

Estas novas artérias da vila “onde o mar é mais azul” ficam todas localizadas na mesma zona da Encosta da Franca, pelo que as respectivas inaugurações (em data ainda não conhecida devido às obras de urbanização que decorrem no local se encontrarem em curso) deverão ser realizadas em simultâneo, sendo nessa altura as placas toponímicas aí colocadas.

Tanto José Caré Júnior como Leandro Santos, Rui Arsénio e Mário Silveira assumiram um importante papel na História contemporânea da Ericeira, enquanto figuras de proa da cultura local e regional.

José dos Santos Caré Júnior nasceu na Ericeira, a 19 de Março de 1924, e seguiu a carreira de Técnico de Construção Civil, foi autarca, correspondente de imprensa regional e autor de vários livros sobre a vila. Em 1955 casa com Maria do Carmo Crava Caré, e do casamento nascem uma filha e três netos.

Profundamente interessado pela história da sua terra, apontou Jaime Lobo e Silva, historiador com quem conviveu, como alguém que o influenciou. Assim como os pescadores.

Em resposta a quem é, afinal, a pessoa que tantos conhecem pelo saber, ao ponto de lhe chamarem “ciberdúvidas da Ericeira”, respondia muito simplesmente e com alguma solenidade, como se essas palavras dissessem quase tudo o que há para saber: «Há coisas que me marcaram».

Tudo começou depois de, em jovem, ler «Os Pescadores», de Raul Brandão, e em criança ter sido absolutamente marcado pelos episódios ligados à vida do mar: hábitos, vocabulário, saberes e, claro, o drama dos naufrágios. Era esse o seu ambiente e viria a moldar os seus interesses e a sua investigação.

Em 2001, a Câmara Municipal de Mafra concedeu a José Caré Júnior (que viria a falecer no dia 4 de Abril de 2020) a Medalha de Mérito Municipal pelo seu contributo em prol da Cultura e História da Ericeira.

É autor das obras “Mini Monografia da Ericeira”, “Ericeira, 50 Anos Depois… Os Refugiados Estrangeiros da II Guerra Mundial” e “Memórias da Ericeira Marítima e Piscatória” (Mar de Letras Editora), para além de documentação que entregou ao Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia da Ericeira. Foi membro fundador da “Confraria da Caneja de Infundice – Ericeira”, para a qual compôs um poema.

Leandro Miguel dos Santos nasce e é criado nas Fontaínhas, onde nasceu em 31 de Maio de 1950.

O seu pai era da Marinha de Guerra sendo destacado em serviço para a antiga colónia de Moçambique, antes de 1964. Neste ano, acompanhado da mãe o dos seus 3 irmãos, rumam à então Lourenço Marques, onde se juntam ao pai.

Em 1968, em Moçambique, alista-se como voluntário na FAP, tendo vindo para a então Metrópole-Portugal, frequentar o curso de formação na Base da OTA. É destacado para a cidade da Beira, em Moçambique em 1970, onde permanece em serviço até 1972. Neste ano ainda, como militar, regressa a Portugal, onde termina o serviço militar em 1974.

Talvez estas andanças e o ter saído da Ericeira aos 14 anos, aonde só regressa em definitivo com cerca de 24 anos, independentemente de algumas presenças de curta duração, tenham contribuído para lhe aguçar o espírito e a necessidade de descobrir tudo o que se relacionava com a história e cultura da Ericeira, onde deixou uma marca indelével, embora tenha precocemente falecido com cerca de 59 anos, em 16 de Fevereiro de 2009.

Esteve ligado à actividade comercial e de restauração, ainda esteve emigrado nos Estados Unidos da América, mas a sua grande paixão era a cultura, poesia e história local, tendo também intervindo em Associações Desportivas e Culturais Locais. Parafraseando uma sua irmã “… sempre foi dado mais à escrita e aos livros, embora tivesse estado ligado ao negócio de Restauração e da venda de peixe, mas onde ele se sentia mais completo e o que gostava mais era na realidade nos livros, especialmente como historiador mas também escreveu alguns poemas …”.

Interessa e é de destacar toda a sua obra, principalmente se atentarmos que à época, as pesquisas que efectuou não estavam acessíveis e facilitadas ao alcance dum computador, como nos dias actuais.

A pesquisa era manual, intensa e à base de apontamentos e fotocópias. Eis um resumo das suas publicações editadas:

• Livro de poemas “Pensamentos”, em 1980, sob o pseudónimo de Miguel Santos;

• No Fórum Ericeirense, “Os Sinaleiros do Mar na Ericeira”, em 1994 e a “História da Ericeira”, em 1998;

• Tem 2 livros na Editora Mar de Letras: “As Águas, os Rios e as Fontes da Ericeira” em 1996, e em 2008 “A Toponímia Histórica da Vila da Ericeira”. Existem ainda textos e obra policopiada na Biblioteca da Ericeira e no Arquivo-Museu:

• “Os Pensamentos e Poemas Inéditos” (editados juntamente com inéditos, que são a maior parte);

• O livro nunca publicado, “Os Judeus em Portugal”;

• O livro inacabado sobre o “Grupo Desportivo União Ericeirense”, abrangendo o período de 1921 a 1961;

• “Contributos para a História da Ericeira”.

Desconhecem-se se poderão ainda existir outros textos em poder da família.

Resumindo o atrás exposto, a sua obra foca e concentra-se em vários aspectos da nossa cultura e história JAGOZ, contribuindo para a tornar mais enriquecida com o seu valioso contributo.

Breve biografia coligida por António Filipe Elias (Toly).

Rui Manuel Almeida Arsénio nasceu a 3 de Junho de 1956 na Rua da Fonte do Cabo, na Vila da Ericeira. Passou boa parte da vida na sua vila natal e a ela dedicou muito do seu tempo e energias.

Profissionalmente Rui Arsénio foi escriturário na Rodoviária Nacional, geriu dois restaurantes locais, deu explicações de Inglês e outras disciplinas a muitos alunos da Ericeira. Ultimamente ajudava no aluguer de casas promovendo o nome da Ericeira junto de pessoas de todas a partes do mundo.

Rui Arsénio teve também uma vida muito ligada à música e foi vocalista do Ericeira Grupo (banda de versões) durante vários anos, e mais tarde membro e fundador dos Ouriços do Mar, que, durante os seus mais de 10 anos de actividade, tocaram um pouco por todo o país e até mesmo no estrangeiro, levando sempre consigo o nome da Ericeira, presente em algumas das suas canções.

Os Ouriços do Mar tocaram como banda de suporte de alguns dos nomes mais populares da música portuguesa e foram durante muitos anos uma das bandas de baile com maior reputação da frente Oeste. A ligação à música verificou-se também nas várias marchas populares para as quais contribuiu com as suas letras e ajuda nos arranjos. Entre essas fica para memória a emblemática “Rainha Ericeira”, que ainda hoje é tocada e cantada quase sempre que a Marcha da Ericeira sai à rua.

Passou também por Rui Arsénio a criação daquele que é hoje o hino do Grupo Desportivo União Ericeirense. Rui Arsénio foi também membro de diversas associações da freguesia entre as quais a Filarmónica Cultural Ericeira e o Grupo Cultural Ericeira.

Pertenceu a outras associações e contribuiu sempre com esforço e dedicação para diferentes causas e festividades da vila.

Era uma pessoa muito acarinhada pela vila e por ela tinha uma invulgar paixão que fazia sempre questão de divulgar até ao seu falecimento, em 2 de Novembro de 2020. Simbolizou toda a sua vida o verdadeiro espírito do genuíno Jagoz.

Mário Duarte Costa da Silveira nasceu em Montemor-o-Novo, mas cedo foi para Lisboa, onde frequentou a instrução primária e completou o ensino secundário no Liceu Camões. Uma vez aprovado nas cadeiras preparatórias para o curso de medicina, na Faculdade de Ciências de Lisboa, ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se formou em 1955, depois de uma interrupção de 2 anos para cumprimento do serviço militar obrigatório como Oficial Miliciano de Infantaria, em Elvas.

Pelas dificuldades sentidas no início da sua actividade clínica em Lisboa, e tendo tido conhecimento que na Vila da Encarnação (Concelho de Mafra) o único médico aí existente, Dr. Raul de Andrade, acabara de se reformar, foi para aí trabalhar, recebendo, desse seu colega, o estímulo e os ensinamentos de que necessitava e, mais do que tudo, o exemplo de humanidade que não mais deixou de nortear a sua profissão. A actividade desenvolvida na Encarnação pode considerar-se como a de um verdadeiro João Semana. Recebia doentes a qualquer hora do dia ou da noite. Quando necessário, ia visitá-los a suas casas, por vezes bem longe e, não raramente, a pé ou a cavalo num burro, tantas e tantas vezes a troco dum simples obrigado. Sentindo a necessidade de uma melhor preparação em algumas áreas da prática clínica, frequentou com aproveitamento um Curso de Medicina Sanitária no Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge; obteve o certificado de Médico Vacinador do B.C.G. no Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos; estagiou no Hospital da Marinha, onde aprendeu a fazer extracções dentárias; frequentou o Serviço de Urgência do Hospital de São José para se familiarizar com as várias situações agudas; e frequentou o Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital Dona Estefânia para adquirir prática em pequena cirurgia.

Ao fim de 5 anos na Encarnação, mudou-se para a Vila de Mafra onde foi sucessivamente nomeado Médico Municipal, Sub-Delegado de Saúde Substituto, Médico dos Centros de Saúde, Delegado de Saúde de 1ª Classe e Director do Centro de Saúde de Mafra. Da sua actividade nestes diferentes cargos resultou, para o Concelho de Mafra, uma melhoria no saneamento ambiental, no tratamento das águas residuais, no abastecimento de água à Vila e um aumento exponencial no número de crianças vacinadas. Frequentou, ainda, com aproveitamento um Curso de Medicina do Trabalho e um Curso Intensivo de Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical.

Dada a elevada percentagem de crianças que observava na sua prática clínica, o Dr.
Mário Silveira, sentiu-se fortemente motivado para adquirir maiores conhecimentos na área da Pediatria. Teve, então, a coragem de, aos 43 anos, iniciar o Internato Geral, ao qual se seguiu o Internato Complementar de Pediatria no Serviço I do Hospital Dona Estefânia (dirigido pelo Prof. Nuno Cordeiro Ferreira), findo o qual viu o seu nome inscrito no Quadro de Especialistas de Pediatra da Ordem dos Médicos. Entre 1981 e 1992 trabalhou na Direcção Geral da Saúde onde chegou a exercer as funções de Sub-Director Geral.

Durante todos estes anos em que frequentou cursos, realizou estágios e exerceu cargos, em Lisboa, o Dr. Mário Silveira percorria, diariamente ou quase, mais de 100 mm por estradas em condições bem diferentes das actuais.

Nos últimos 30 anos passou a residir na Vila da Ericeira, exercendo predominantemente pediatria, mas não abandonando nunca a clínica geral. A sua abnegação e o espírito de servir acompanharam-no sempre. Menos de um mês antes do seu falecimento, no dia 23 de Novembro de 2009, aos 84 anos, já bastante doente, atendeu um doente que lhe bateu à porta pedindo-lhe a sua ajuda.

Breve biografia coligida pelo Prof. Jaime Salazar de Sousa