Fotografia: DR
Quem conhece a Ericeira, já reparou com certeza na escultura que se encontra acima da mais mediática e cosmopolita das sete singulares ondas de classe mundial que compõem a Reserva Mundial de Surf da Ericeira – Ribeira d’Ilhas. Falamos, claro está, do “Guardião”.
No ano passado, o artista que elaborou esta escultura, um projecto em que José Queiroz trabalhou por mais de 30 anos, concedeu uma entrevista ao site Ericeira Living.
esta escultura vai mais longe no tempo, tendo raízes mais profundas e detalhes comoventes
Apesar de o “Guardião” celebrar a consagração da Ericeira como Reserva Mundial de Surf – que comemora este ano o seu 10º aniversário -, a verdade é que esta Obra vai mais longe no tempo, apresentando raízes profundas e detalhes comoventes.
Os traços do Guardião foram inspirados por uma pessoa real. Esta pessoa foi um modelo para uma relação saudável, sustentável e íntima com o mar. Representa um homem que amou verdadeiramente a Natureza e cujas qualidades são dignas deste título.
Com a sua criação, que faz o apelo colectivo à preservação ambiental a todos, dentro e fora de água, José espera inspirar a uma versão melhor de cada um de nós.
Em conjunto com a sua esposa Catarina, José Queiroz explicou detalhadamente na entrevista que se segue o processo da sua criação mais importante, impantada em 2017 e que se tornou um ícone local. As quatro primeiras perguntas pertencem a crianças da Ericeira.
De que é feita a escultura?
A escultura é feita de bronze, que é um óptimo material. Não é prejudicial à Natureza e dura muito tempo, centenas de anos.
O Guardião está a olhar para algo em particular? Que significado tem a direcção do seu olhar?
Sim, o Guardião está a olhar para o mar. Para nenhum ponto determinado, só para o mar. O Guardião é o elo entre o oceano e a humanidade. Além disso, é um pouco parecido com o tipo de criatura homem-peixe. Isso faz-me pensar no Guardião como uma ponte que nos conecta ao mar.
embora só more definitivamente na Ericeira há 20 anos, a minha relação com a vila é muito mais antiga do que isso
O José é surfista? Já ganhou muitas competições?
Sim e não. Apesar de surfar, nunca competi como surfista. Mas competi como nadador, uma vez.
Qual é a sua relação com a Ericeira?
Os meus avós costumavam passar as férias aqui, assim como os meus pais. Embora só more definitivamente na Ericeira há 20 anos, a minha relação com a vila é muito mais antiga do que isso.
manter-se a si e ao meio ambiente saudáveis era uma prioridade para meu pai, pois entendia que uma coisa não poderia existir sem a outra
Onde encontrou a inspiração para o Guardião?
O meu pai foi a minha inspiração. O amor do meu pai pelo mar inspirou-me a criar o Guardião. Lembro-me de como o meu pai ficava entusiasmado cada vez que nos aproximávamos da Ericeira e do cheiro a mar. Embora eu fosse jovem e um nadador forte na época, lembro-me de não ser capaz de acompanhar a velocidade do meu pai na água. Para além do seu amor pelo mar, o meu pai tinha o conhecimento científico e um treino disciplinado que o tornava um excelente nadador. Ele planava na água como uma criatura marinha. Era um espectáculo assistir a isso.
Outra das qualidades do meu pai que eu queria passar através desta criação era o quanto ele valorizava manter-se saudável. Isto é algo que ele carregou por toda a vida. Quando tinha apenas 5 anos, usou o dinheiro que recebeu no Natal para comprar algo especial, a fórmula definitiva para a saúde nessa época – óleo de fígado de bacalhau.
Manter-se a si e ao meio ambiente saudáveis era uma prioridade para meu pai, pois entendia que uma coisa não poderia existir sem a outra. Esta era a sua paixão e a sua vida. Tanto que, depois de se formar engenheiro (principalmente para agradar aos meus avós), passou a treinar desporto e passou a dar aulas na universidade.
Como é que esta escultura acabou por ir parar ao miradouro de Ribeira d’Ilhas?
Depois de terminar a escultura, tentei levar o projecto adiante, pedindo à Câmara que desse uma casa à beira-mar ao Guardião. No entanto, a Câmara, na época, não estava interessada. Então, esperei por novas eleições e tentei novamente. E, dessa vez, tive sucesso.
Prosseguimos com o projecto e o protótipo de 90 centímetros de altura tornou-se o Guardião em tamanho real que é possível ver hoje. Quando a escultura finalmente tomou o seu lugar, fora do meu estúdio e bem perto do mar, parecia majestosa! Foi quando o Guardião “descolou” e a resposta do público foi incrível, devo dizer, comovente.
Depois do enorme sucesso com o público após a inauguração desta obra, foi apenas uma questão de tempo até o Guardião se tornar também numa marca, primeiro com uma linha de roupa que tem como foco a sustentabilidade, onde o algodão é orgânico e a impressão feita localmente, seguindo-se, em 2019, o livro infantil “O Guardião – a Mensagem”, cuja ideia surgiu de Catarina – que trabalha diariamente com crianças. Marina Crisóstomo, também professora, ajudou na elaboração da história, enquanto José ficou a cargo da ilustração, combinando madeira e papel machê para criar as personagens (os três filhos de José e Catarina, que nunca conheceram o avô e que têm aqui uma oportunidade para o conhecer através da personagem do Guardião) e os diferentes cenários.
A mensagem do livro consiste num apelo urgente à acção, incentivando as crianças a tornarem-se guardiãs do planeta, inspirando apreço e uma atitude positiva em relação à Natureza e ao mar.
Os produtos do Guardião podem ser encontrado na Casa Bernardino, na Ericeira, ou online.
Pode ler aqui na íntegra a entrevista original.
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