Fotografia: André Vicente Gonçalves
André Vicente Gonçalves fotografa (e documenta) janelas e portas de cidades por todo o mundo. Conhece bem a Ericeira, lugar onde viveu em criança e para onde volta sempre que pode para relaxar. As janelas que aqui fotografou, parte de um projecto que inclui outras paragens, são muitas vezes escolhidas por publicações internacionais. O seu trabalho foi já destacado pela CNN e pelo Washington Post e o fotógrafo continua a viajar, contando com apoios como o do Turismo dos Açores. Felizmente, encontrou tempo para responder à curiosidade da AZUL enquanto regista o que janelas e portas têm para dizer sobre as diversas culturas.
O que é o projecto “Windows of The World”?
O projecto é um estudo sobre a arquitetura urbana e vernacular, que permite distinguir regiões e cidades através da estética e unicidade das suas janelas.
Como nasce e se desenvolve esta ideia?
A ideia nasceu em 2009 – quando fiz Erasmus durante um ano em Trento – nos Alpes italianos. Já tinha várias janelas de Évora e Lisboa nessa altura, mas foi quando mudei de país que reparei que as janelas variam consoante os locais. A partir desse momento o trabalho foi-se desenvolvendo devagar e transformando-se nas colecções que hoje formam o projeto.
O que pode uma janela dizer sobre uma casa, sobre um lugar?
Uma janela pode dizer muito, pode remeter-nos para uma era diferente da que vivemos hoje em dia e o tipo de materiais usado permite-nos ter uma noção sobre cultura local.
Conhece bem a Ericeira?
Sim, conheço. Quando era pequeno vivi em Santo Isidoro e depois na Tapada de Mafra. E, desde que nasci, vou à Praia de Ribeira D’Ilhas sempre que posso.
Recorda-se como foi fazer o “Windows of The World” aqui?
Recordo-me, as cores azuis e brancas facilmente nos saltam à vista. O conjunto da Ericeira é muitas vezes escolhido para as publicações internacionais pelo seu aspecto de vila e praia piscatória.
Uma janela pode remeter-nos para uma era diferente da que vivemos hoje em dia
Há lugares nesta vila que o atraem especialmente?
Toda a vila me atrai, é um sitio onde vou com muita frequência para desanuviar do stress e relaxar; adoro os ouriços da Ericeira!
De quem é o olhar por detrás das lentes, quem é o artista André Vicente Gonçalves?
Eu formei-me em fotografia em 2013 pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Tenho um grande interesse em viajar, conhecer o mundo e o que me rodeia, interesse que tento transmitir através dos meus projectos.
Como tem o mundo reagido à sua Arte?
A reacção tem sido fantástica, tenho sido entrevistado por jornais, revistas, canais de televisão e outros tipos de media por todos os cantos do mundo, incluindo a CNN e Washington Post, entre outros.
Lê-se no seu blogue que, ao escolher as janelas, nem sempre escolhe as mais bonitas. Como nasce a escolha?
Geralmente costumo ter uma grande amostra de janelas de cada cidade para as colocar em miniaturas, lado a lado, de forma a ver qual o tipo que mais se distingue; por norma as mais bonitas ficam de parte porque são únicas e quando colocadas junto às outras não são coerentes.
Houve janelas que o tocassem de forma diferente, casos em que lhe apetecesse mesmo olhar lá para dentro, por exemplo?
O meu trabalho é muito sóbrio e arquitetónico, o especto voyeurístico é algo que não procuro no desenvolvimento do projecto.
A Ericeira é muitas vezes escolhida por publicações internacionais pelo seu aspecto piscatório
Tem algumas histórias deste tipo ou outras que queira contar?
No ano passado, quando visitei a Roménia, ainda estive em apuros por fotografar as janelas do edifício de uma embaixada; fui prontamente abordado pela polícia, que me levou os documentos e a mochila, mas como fui com o apoio da Embaixada de Portugal em Bucareste tudo se resolveu pelo melhor.
Tem influências artísticas que o acompanham e que identifique, na fotografia ou em outras artes?
Tenho muitas influências artísticas. Durante a minha licenciatura em fotografia estudei centenas de fotógrafos e projectos, em especial, fui muito influenciado pela fotografia alemã, influenciou-me a maneira de fotografar, muito metódica, perfeccionista e sóbria.
As janelas e as casas por vezes têm um valor icónico muito forte. Como artista, em que medida sente essa “força”?
Sinto essa força pela maneira como os proprietários decoram os edifícios, como os seus conceitos de beleza reflectem o exterior das propriedades.
De que forma é este projecto sustentável? As pessoas podem ter a “sua” composição de janelas em casa ou comprar para oferecer?
O projecto ainda está na sua fase inicial, é difícil sobreviver, pelo que dependo muito de patrocínios e da venda de ‘prints’ que as pessoas possam usar nas suas casas. Estou neste momento a trabalhar no primeiro livro sobre as janelas de Portugal – já fotografei cerca de 80 cidades portuguesas, incluindo Madeira e Açores – e também estou a começar com as edições limitadas de impressões, de modo a sustentar o projecto.
Pode dizer-nos em que está a trabalhar agora e abrir um pouco as cortinas dos seus projetos futuros?
Ainda não estou a pensar em trabalhos futuros. Estendi o projecto para portas e, neste momento, com o trabalho de fotografia de arquitectura – em particular, na hotelaria. De momento tenho o tempo muito ocupado.
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