Financial Times dedica artigo à casa de Paula Rego na Ericeira

 

Fotografia: AZUL

 

“Lar de fantasia: um lar português à beira-mar repleto da estranha doçura da vida” – é este o título do artigo publicado pela Property Listings do reputado jornal britânico Financial Times sobre a casa da Quinta Figueiroa Rego onde Paula Rego viveu durante vários anos.

Para Mersiha Bruncevic, autora deste texto, a vida da artista Paula Rego durante os anos 60 do Século XX na vila de pescadores jagozes apresenta doses repartidas de emoção, liberdade criativa e turbulência – ou seja, elementos que se conjugam para uma fascinante história.

a vida ali parecia um sonho interminável de olhos abertos

O artigo, que contém uma fotografia da AZUL – Ericeira Mag (a casa de família de Paula Rego, que aqui voltamos a colocar em destaque), começa por recuperar “Histórias e Segredos”, documentário de 2017 sobre a vida e obra da artista portuguesa, referindo que o mesmo abre com imagens da década de 1950 duma adolescente Paula Rego Rego a brincar entre as ondas da praia da Ericeira, possivelmente a Empa, de que era frequentadora assídua: “A areia é amarela brilhante, o céu incrivelmente azul e as impressionantes falésias ao fundo são quase lunares. Esta é a Ericeira, a pequena vila piscatória portuguesa onde Rego passou grande parte da sua infância”, pode ler-se no artigo do website pertencente ao centenário jornal londrino.

A casa ericeirense onde Paula Rego, falecida em 8 de Junho de 2022, cresceu e viveu é o cenário de muitas das suas pinturas, como bem relembra Mersiha Bruncevic. A residência da Quinta Figueroa Rego mantém paredes caiadas de branco e um mosaico de azulejo azul e branco na fachada representando a Virgem Maria e o Imaculado Coração.

A Dança, 1988, Paula Rego

Noutro segmento de”Histórias e Segredos” uma jovem e bela Paula Rego dança no terraço com o marido e amigos. Esta cena é repetida como um refrão ao longo do filme; e é a felicidade natural daqueles momentos, juntamente com a beleza discreta da vivenda, o que torna esta a casa de fantasia perfeita para a jornalista do Financial Times.

Mersiha Bruncevic confessa-se, também, fascinada por um paradoxo: de acordo com Nick Willing, filho de Paula Rego, a quinta era “um santuário de artistas”, um lugar de “excitação, sensualidade” e “saudade” – a vida ali parecia um sonho interminável de olhos abertos. Mas este não seria sempre um lugar feliz para a artista, como sabemos: se por um lado assistiu à sua criação artística, no reverso da medalha encontramos não só os bloqueios criativos do marido como os muitos casos que Rego e Victor tiveram enquanto lá moravam. Não esquecendo, claro, as circunstâncias que viriam a forçar Paula Rego a desfazer-se desta jóia de família em 1979.

pinturas como a de Rego parecem dissonantes, como memórias de um tempo que nunca existiu

A jornalista considera que a liberdade que Paula Rego desfrutou nos anos 60 do Século XX faz daqueles dias na quinta um ideal, uma fantasia: a liberdade de criar e amar é algo raro – mas durante um período temporal parecia existir em abundância naquele espaço.

O artigo é concluído com um parágrafo em que se refere o actual espírito dos tempos na Ericeira, transformada numa meca do surf à escala global: “por toda a vila há pranchas de surf apoiadas nas paredes caiadas de branco das casas. Fatos de neoprene estão pendurados em varais sob o Sol sem sombras da tarde. Pinturas como a de Rego parecem impossivelmente dissonantes, como memórias de um tempo ou de um sonho que talvez nunca existiu. Mas enquanto caminhamos pelas praias uma mulher chama-nos a atenção. O cabelo preto e as maçãs do rosto altas são familiares. Os olhares cruzam-se por um breve momento e de repente estamos a olhar para a figura de Paula Rego”, que aparece no canto esquerdo de “A Dança”, quadro que tem o Forte de Milreu como pano de fundo e no qual o seu marido dança com uma qualquer outra mulher.

Paula Rego e o marido Vic Willing na Ericeira – ph. Manoela Morais.

Pode ler aqui o artigo original na íntegra.

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