Fotografia: Daily Cristina
“Sentir”, de Cristina Ferreira, foi editado pela Contraponto em Novembro de 2016 e nas primeiras semanas vendeu logo cerca de 85 mil exemplares, ocupando o primeiro lugar de todos os tops de vendas nacionais. Apresentado como livro de memórias da célebre apresentadora de televisão e mulher de negócios (já foi considerada uma das mulheres mais influentes de Portugal por media de referência, como o Expresso, a Sábado ou a Forbes Portugal), na contracapa também se pode ler o seguinte: “Muitos me perguntam como consigo, qual o segredo do meu sucesso. Talvez aqui encontrem respostas.”
Ao longo das páginas e capítulos da obra podemos encontrar várias coordenadas (familiares, românticas, académicas e profissionais) sobre a biografia desta mulher nascida há 39 anos em Lisboa mas criada na Malveira. E também há muito espaço dedicado à Ericeira, vila com a qual Cristina Ferreira tem uma longa e profunda relação.
O capítulo “A Praia” é inteiramente dedicado à terra dos jagozes, mas ao longo doutras páginas também surge a Ericeira como influência (in)directa na sua vida. São estas ligações que vamos colocar em destaque de seguida.
Capítulo “O Inglês”, in secção “A Escola e Outras Lições”
Aqui descobrimos que a mãe de Cristina Ferreira (Filomena) trabalhou na Pensão Fortunato – na Rua Doutor Eduardo Burnay – desde os onze anos, o que lhe permitiu conhecer as línguas francesa e inglesa.
A ligação ao lugar é tão forte que não passo uma semana sem o cheiro daquele mar
Capítulo “A Praia”, in secção “Grão a Grão”
Ilustrado por uma fotografia de Cristina Ferreira a banhos na Praia do Sul, aqui se pode ler que “A minha tia Hortense, com casa na Ericeira, foi sempre a mãe do Verão, pois passava lá quase toda a temporada. Numa casa da Rua da Barroca, eu e a minha prima Mónica vivemos alguns dos momentos mais serenos e felizes das nossas vidas. A ligação ao lugar é tão forte que não passo uma semana sem o cheiro daquele mar. Dizem os médicos que aquela praia dá saúde. Ali, naquelas águas frias, nas rochas cheias de limos, conheci a força do mar e a energia que transporta. Nos momentos menos bons – porque todos os temos – é nele que molho os pés. Sempre que tenho um grande projecto para lançar, é lá que vou. Como se aquele mar me devolvesse os sorrisos que lá fui deixando ao longo dos anos.”
Sempre que tenho um grande projecto para lançar, é lá que vou.
Cristina Ferreira refere que aquelas férias, imortalizadas em fotografias que a mãe “guarda em caixas, gavetas e outros pacotes que servem para proteger memórias”, significavam um grande esforço para a sua mãe: o pai nunca vinha porque o ócio era só para as mulheres que, para o bem das filhas, gastavam naqueles 15 dias o que poupavam, com sacrifício, durante o ano.
Por falar em memórias, é aqui que também se recorda a saudosa e carismática Bernardina, que apregoava bolos e batatas fritas pelo areal: “Uma senhora gordita e muito morena, vestida de branco, tal como branca era a caixa que carregava. Uma caixa com prateleiras atulhadas de bolos de todos os feitios. Já naquele tempo, eu queria mais do que um. Primeiro era o pastel de nata, depois o mil folhas.”
Uma das passagens mais marcantes fica reservada para o final deste capítulo, em que também revela viverem na Ericeira as suas memórias mais antigas relacionadas com a televisão: “A verdade é que as coisas marcantes têm lugares. A Ericeira é o meu lugar. Onde me encontro, onde cresço e para onde levei o meu filho logo que nasceu. Ali vivemos seis anos. Dei-lhe o mesmo cheiro a mar, a mesma praia. Transmiti-lhe esse sentimento de pertencer a um lugar, a um perfume, a uma cor de mar”, voltando ainda a recordar a “Ti Bernardina”, falecida há alguns anos.
A Ericeira é o meu lugar.
Capítulo “Dicas da mãe”, in secção “Vaidosices”
Aqui Cristina revela que a mãe, que passou a adolescência na Ericeira, sempre que aqui regressa se arranja de forma especial, como se o local lhe merecesse “uma vénia”.
Capítulo “A fé”, in secção “Das Circunstâncias de Ser Mulher”
Nesta parte Cristina Ferreira dedica as suas últimas linhas à Ericeira por via da Imagem Devota que em Agosto deste ano se despedirá da vila por vários anos. A memória transporta-a até “aos Navegantes, uma das praças mais conhecidas da vila. Na altura, pouco mais havia do que o hotel que se mantém junto ao mar. Já lá vão 34 anos. O meu olhar de criança pequena fixou os cavalos. E, atrás, a pequena Nossa Senhora da Nazaré. Na altura devo ter achado que era especial. Havia festa, lágrimas à sua passagem, colchas penduradas e gente que se despede. Porque só volta dali a 17 anos. Só mais tarde percebi. A pequena Santa percorre 17 freguesias, que a recebem em festa. Contam-se as vezes que a vemos, tornando-nos a fé mais intensa e pedindo que a voltemos a ver. Os mais velhos sabem que a vida, ou talvez a morte, pode não permitir uma outra vez. Já a vi três vezes. Na Ericeira, a terra que me acolhe desde sempre. Foi em Setembro de 2016 que a vi pela última vez. E o meu filho pela primeira (…) Que a vida nos permita estar lá, daqui a 17 anos. Eu tenho fé!”