“É pá, ‘tá muita bem apanhado!”

Carnaval Jagoz - ph. DR

 

Texto: Miguel Arsénio | Fotografia: Carnaval Jagoz

 

Serão muitas as frases que marcam o Carnaval da Ericeira, mas nenhuma tem a força e a tradição de: “É pá, ‘tá muita bem apanhado!” (não disfarcemos os erros, porque é assim mesmo que o pregão é pronunciado).

Normalmente, essa é a frase que salta das bocas ericeirenses no momento de reconhecer a pontaria na máscara de determinada pessoa. Para que isso aconteça, basta muitas vezes que alguém vasculhe as gavetas mais refundidas do seu armário e junte ao que encontrou uma qualquer peça-chave comprada numa loja local. Em todo o caso, o Carnaval jagoz destaca-se por ser orgulhosamente desenrascado e alheio à maioria dos luxos (Ericeira não é Veneza): na verdade, será necessário mais do que a Rainha Sandra ter na cabeça uma peruca multi-colorida para que a folia comece? Acreditamos que não.

Entre os disfarces carnavalescos mais estimados pelas gentes da Ericeira, temos por exemplo o tradicional “trapalhão” (fato-macaco e uma máscara de borracha assustadora) e a incontornável matrafona (que vários homens gostam de encarnar, deixando bem salientes os seus bigodes e os grossos pêlos das pernas). Os miúdos (ou os pais deles) optam normalmente pelo super-herói favorito (Batman e Homem-Aranha são escolhas intemporais) ou arriscam qualquer coisa que se assemelhe a um piratinha ou a um ninja. Contudo, a frase que dá o mote a esta crónica recompensa sobretudo os melhores improvisadores e criativos do Carnaval vivido entre Ribeira d’Ilhas e a Foz do Lizandro.

Quem esteve, então, muito bem apanhado ao longo dos tempos passados na Ericeira? O rol de notáveis é inesgotável, mas este texto nem o era sem referir por exemplo a graça de quem se mascarou de emigrante de leste com óculos garrafais ou o arrojo de uma conhecida personagem jagoza, que há muitos anos montou uma tendinha de venda de drogas várias, no meio do Jogo da Bola (todo o cenário foi tão surreal quanto inesquecível). Tivemos também muitas celebridades reconhecidas mundialmente e já sabemos que o Telmo Botelho e o Amândio (rapaziada da vizinha freguesia da Carvoeira) a cada ano inovam nos seus trajes menores.

Num ano em que o Carnaval jagoz procura recuperar um lugar de destaque que bem merece, era óptimo que pudéssemos repetir muitas vezes: “É pá, ‘tá muita bem apanhado!”