Texto: Paulo Galvão | Fotografia: Mauro Mota
Bolos secos que fazem água na boca
A entrevista vai sendo interrompida por clientes que, apesar de ainda ser consideravelmente cedo, já ocupam o balcão da mais antiga pastelaria da Ericeira. Lá dentro encontra-se Francisco Gama que, quando o pai morreu, foi obrigado a abandonar os estudos em Tomar – “Também não gostava muito de estudar”, confessa, arregaçando as mangas – e a agarrar aquele que viria a ser o seu primeiro e único emprego. “O meu pai morreu muito cedo e só viu isto aberto 5 dias.” Estávamos em 1963.
Já antes, os seus pais eram donos de uma padaria (que ainda hoje existe) na Rua Eduardo Burnay. O negócio corria bem e decidiram então abrir a Casa Gama, uns metros abaixo. À frente do negócio ficaram Francisco Gama e a sua mãe, Maria Perpétua Gama, que aos poucos se foi retirando. Na verdade, a Casa Gama só viria a ser efectivamente sua a partir de 1986, depois de uma avaliação que lhe permitiu ficar com a parte da única irmã, Isabel Gama Claudino.
A Casa Gama é uma marca de sucesso e os seus bolos um produto de grande qualidade, que fazem com que ainda hoje se formem filas de clientes à porta, apesar da concorrência das inúmeras pastelarias da vila da Ericeira. “Havia poucas casas iguais a esta e chegávamos a estar na loja até à meia noite.“ Aqui, o segredo dos bolos está guardado há décadas, tendo as receitas originais sido trabalhadas pela mãe do proprietário. «Mas entretanto já aperfeiçoei as receitas: mais uns ovos, mais um bocadinho de margarina, etc.»
A decoração da loja é marcada pelas latas que armazenam os bolos secos: areias da Ericeira, biscoitos de manteiga e biscoitos de canela.
As vendas começaram apenas com os bolos secos e os queques. Mais tarde chegaram as queijadas, as tortas e o bolo de chocolate. A decoração da loja é marcada pelas latas que armazenam os bolos secos: areias da Ericeira, biscoitos de manteiga e biscoitos de canela. São latas com mais de quarenta anos, encomendadas à época a latoeiros de Torres Vedras e da Malveira.
O verão é a altura crítica em termos de trabalho. Às cinco da manhã já está na loja e às seis e meia já a rua cheira a bolos. Chega, faz as massas e coloca os bolos no forno. “Tenho fregueses que vêm cá comprar bolos desde o primeiro dia”, diz orgulhoso. A ajudá-lo estão os dois filhos, que se revezam entre a manhã e a tarde e que contribuem para que o pai possa dedicar algum do pouco tempo livre que lhe resta a duas paixões: as frutas tropicais, que cultiva no quintal de casa e num terreno em frente à escola “… papaias, mangas… tenho lá coisas lindas”; e uma outra grande paixão com o seu quê de polémica à mistura: o Benfica. Sócio 7340, Francisco Gama já há algumas épocas que não vai ao estádio da Luz, apesar de ter lugar cativo. “Eu não gosto do Jorge Jesus, e enquanto ele lá estiver não volto a pôr os pés no estádio.”
À frente da Casa Gama há 50 anos, afirma que em breve serão os filhos a tomar conta do negócio. “Enquanto tiver forças para estar aqui, venho trabalhar, mas isto… é mais um ano que aqui estou e depois são eles que têm de continuar.”
Casa Gama
Calçada da Baleia 9-A, Ericeira
261 864 917
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