As sete magníficas da Ericeira

 

A exposição “Ericeira Reserva Mundial de Surf” chega ao seu último fim-de-semana em exibição na Rua Dr. Eduardo Burnay, no coração da vila. A iniciativa, que marcou o arranque da celebração do 1º aniversário da AZUL e que teve o apoio das autarquias de Mafra e Ericeira e da JC Decaux, homenageou as sete relíquias marítimas da costa jagoz protegidas pela distinção da Save The Waves Coalition através de uma mostra fotográfica destas ondas captadas pelas lentes de Luís Bento, Ricardo Bravo, José Guerra e André Carvalho.

No encerrar desta exibição, a AZUL conversou com os quatro fotógrafos que se associaram à iniciativa sobre os primeiros passos na sua arte e as histórias por trás das imagens que ilustraram a exposição.

 

SÃO LOURENÇO + RIBEIRA D’ILHAS x JOSÉ GUERRA

Fotografias #1 + #5

A paixão de José Guerra pela fotografia acendeu-se na adolescência, quando se perdia pela capital e fotografava linhas do comboio, jogadores de cartas no jardim do Campo Grande e as ruelas de Lisboa. Mas foi numa viagem a Marrocos, em 2000, que surgiu mais marcadamente o gosto pelas imagéticas de surf e mar deste fotógrafo de 41 anos nascido em Lisboa mas que adoptou a Ericeira como lar. O momento captado em Ribeira d’Ilhas, diz-nos, foi uma conjugação perfeita entre “luz mágica e mar com condições perfeitas”. “Nesse dia encontrava-me a fazer uma sessão de retratos para um book nos montes por cima da praia da Empa e houve um momento em que tive de interromper a sessão e deslocar-me ao forte. Foi assim que surgiu essa imagem.” Já a fotografia de S. Lourenço nasce do projecto Posters Special Edition, que também visava celebrar a Ericeira enquanto Reserva Mundial de Surf.

 

COXOS + CRAZY LEFT x ANDRÉ CARVALHO

Fotografias #2 + #3

A primeira máquina fotográfica de André Carvalho chegou-lhe às mãos por transmissão do pai, então fotógrafo profissional. A partir daí, a câmera acompanha-o para todo o lado, e aos 38 anos é um reconhecido profissional de fotografia de surf em Portugal. É por isso que “a Ericeira é paragem obrigatória”, local de excelência para o surf que alberga das melhores ondas do país. As imagens da autoria deste fotógrafo de Lisboa que estão expostas na vila foram, curiosamente, captadas num espaço contíguo: Crazy Left e Coxos estão unidas pela mesma falésia escarpada e pelas lajes pontiagudas. Sobre a fotografia de Nicolau Von Rupp em Crazy Left, descreve-nos que “foi tirada num dia relativamente pequeno, mas muito perfeito e com uma luz linda”. “Lembro-me de subir a falésia para criar alguma dúvida em relação ao tamanho das ondas e quando chego lá a cima começam a entrar alguns sets melhores. Nesta é o Nicolau a passear tranquilamente por um dos muitos tubos que deu nesse dia.” Sobre a onda dos Coxos, André Carvalho explica a arte por trás de um ângulo diferente. “Há dias em que os Coxos me irritam. As ondas estão lindas, a luz perfeita e depois fico naquela dúvida sobre onde me hei-de posicionar. Neste dia fiquei cá por cima pelo parque, queria mostrar um pouco do ambiente e, por vezes, algum caos no estacionamento. Como não é de estranhar, nos dias bons os locais apanham quase sempre as melhores e esta tinha o nome do Tiago Oliveira.”

 

CAVE + REEF x RICARDO BRAVO

Fotografias #4 + #6

Ricardo Bravo conhece tão bem as ondas da Ericeira como a arte de as fotografar nos seus momentos mais deslumbrantes. O fotógrafo profissional de 39 anos proveniente de Paço d’Arcos cedo começou nas lides dos cliques e das revelações e tornou-se num dos mais prestigiados fotógrafos de surf em Portugal, tendo imagens publicadas nas principais revistas do género no país e no estrangeiro. Na exposição estão patentes duas imagens de sua autoria, dos bodyboarders Nuno Cardoso e João André no Reef e Cave, respectivamente.  Sobre o primeiro, revelou-nos que “este foi o dia maior que fotografei no Reef”. “Estava um dia lindo de sol e offshore e resolvi tentar a minha sorte. Mal sabia eu que o ‘Nunito’ era quem aparecia numa das melhores ondas do dia.” Já sobre a Cave, as dificuldades em captar imagens foram acrescidas. Estamos a falar da (provavelmente) mais perigosa onda do continente português. “Recordo-me que neste dia havia boas ondas mas, como é habitual na Cave, muitas fechavam e era preciso estar atento para não ficar no sítio errado no momento errado. O  ‘Magoito’, que conhece aquela onda como poucos, arrancava sempre nas melhores e não deu hipótese, fez ondas impressionantes.”

 

PEDRA BRANCA x LUÍS BENTO

Fotografia #7

Começou na fotografia por influência dum avô e do pai e em 2007 tornou o projecto mais sério, após uma viagem às Maldivas. Com 40 anos, o fotógrafo de Carnaxide tem a Ericeira bem assinalada no mapa das regiões que mais gosta de fotografar em Portugal, “não só pela beleza natural, como também pelos vários tipos de ondas de classe mundial” que distinguem o litoral jagoz. Sobre a imagem de Pedra Branca que consta da exposição, conta-nos que chegou àquela praia ainda era de noite e que, com o nascer do Sol, “nem estava a acreditar no que via”. “A sessão foi simplesmente épica, as condições estavam perfeitas para aquela onda: ondulação de dois metros de Oeste e vento fraco de Leste.” Dentro de água juntaram-se pesos-pesados do surf português: Nic Von Rupp, João Guedes, Gony Zubizarreta, José Gregório; e um dos melhores bodyboarders portugueses de todos os tempos: Manuel Centeno. Já dentro de água, Luís Bento disparou para o bodyboarder e congelou o momento exibido no centro da Ericeira. “Muita gente pensa que fotografar na água é pegar na máquina e nas barbatanas e disparar quem aparece à frente. Não é assim. A maior parte das vezes temos o trabalho dificultado por causa das correntes e da própria ondulação, por isso temos de estar bem preparados, tanto fisica como mentalmente. É preciso gostar muito de fotografia e de mar.”

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