Fotografia: AZUL
Bilhete de Identidade
Manuel Tiago Cabral Sacadura Alexandre da Fonseca (também conhecido na Ericeira por “padre novo” – haverá outras?)
Nascido em Lisboa a 13 de Fevereiro de 1986
Padre
A Ericeira é linda e demora mais do que três dias a atravessar
A Ericeira é “linda” e “demora mais do que três dias a atravessar”. O Cónego Armindo disse-me esta frase tantas vezes! Neste tempo de pandemia visitei novos cantos da Ericeira que desconhecia. Fico impressionado por ver esta terra a crescer tanto!
O que mais ama e menos gosta na Ericeira?
Gosto muito dos jagozes tão hospitaleiros. Gosto que as crianças me tratem por tu. Gosto de conhecer as histórias e a fé dos pescadores no porto de pesca e de os ver chegar de barco de manhã junto à capela de Santo António e da Boa Viagem. Gosto de andar a pé e ver o pôr-do-sol nas Ribas ou em São Sebastião. Gosto das tradições que dão identidade a esta terra, sobretudo a Espiga. Gosto do cheiro a maresia e de um banho na praia de manhã cedinho e com o sol a queimar. Gosto de caneja (estou a brincar… não gosto especialmente, mas consigo comer se me convidam!). Hmmmm… não gosto desta nortada, o vento típico de Julho!
preocupa-me esta pandemia e as suas consequências no curto e médio-prazo na nossa vila
Quais são as suas principais preocupações no presente e para o futuro da Ericeira?
Há uns meses a minha resposta seria diferente, mas agora obviamente preocupa-me esta pandemia e as suas consequências no curto e médio-prazo na nossa vila: no plano sanitário, económico, religioso e social, no nosso modo de nos relacionarmos uns com os outros e com Deus.
De repente, corremos o risco de passar a olhar o outro e nós próprios como ameaça em vez de dom, e isso gera uma fractura pessoal e comunitária e leva até a um afastamento da vida familiar da Igreja e a uma vivência mais individualizada da fé. Esse é um enorme desafio para mim como padre neste tempo: continuar a propor a todos a vivência da fé em comunidade, pela participação na Missa, assumindo a missão de cuidar uns dos outros, com a prudência e os cuidados necessários.
Preocupa-me a solidão dos mais velhos em casa ou nos lares, bem como o cansaço de tantas famílias que não têm avós nem outra ajuda por perto e que experimentam as dificuldades da exigência do tele-trabalho com a educação dos filhos.
Preocupa-me este crescimento tão rápido da vila, pelo qual corremos o risco de não conhecer o novo vizinho e de perdermos alguma identidade em busca de um “lucro fácil” (com a inflação das rendas das casas, por exemplo, que dificulta a permanência dos locais).
A Ericeira tem uma beleza natural extraordinária, que Deus nos deu, para partilhar com todos – com os jagozes, com os que vieram de outros lados e aqui escolheram viver, com os que vêm de fim-de-semana e Verão, com os turistas e passantes, etc – e por isso é tão importante continuarmos a ser a vila acolhedora que tão bem serve a cada um.
O que é ser Jagoz?
Ser Jagoz é ser azul da cor do mar, tão vasto que nos faz sonhar até ao horizonte, onde toca o céu. Ser Jagoz é querer sair e fazer-se ao largo, mas ao mesmo tempo ter tempo para ficar e saborear aqui as coisas boas da vida, a família, o sol e o mar.
Considera-se Jagoz?
Há quem diga que nas homilias já falo como Jagoz, mas eu na verdade nunca reparei nisso…! De qualquer modo, gosto muito desta terra e sinto-me muito querido aqui! Até já bebi água da Fonte do Cabo, mas sei que aqui ficarei enquanto Deus quiser e a Igreja me pedir.