Criadores da Vila Azul: Safiyah

 

Fotografia: DR

 

Cédula criativa

Irina Sofia Barreto Mourão Lopes de Almeida

Nome artístico: Safiyah

Nascida em Lisboa a 26 de Março de 1985

Dançarina, designer e produtora de eventos/espectáculos

Bailarina Profissional e Professora de Dança Oriental desde 2009.

Website: safiyahbellydance.com

Redes sociais: Facebook: SafiyahDance | Instagram – safiyah_bellydancer | YouTube: Safiyah Bellydance

como se o corpo do bailarino ilustrasse todos os instrumentos em simultâneo

A Dança Oriental é uma arte com raízes milenares, desde o Antigo Egipto, Mesopotâmia com referências nos grandes impérios Greco-Romano, Persa e Otomano. Acredita-se terem sido praticadas danças cerimoniais e ritos de invocação à fertilidade nos antigos templos, que muito mais tarde evoluíram e influenciaram danças tradicionais regionais populares e folclóricas que são hoje a base desta dança.

Estas danças diferem entre elas e encontram-se por todo o Norte de África e Médio Oriente ainda hoje. Viajantes e historiadores ocidentais Orientalistas testemunharam e relataram estas danças de forma fantasiosa e, muitas vezes, irrealista ou até preconceituosa devido à mentalidade da época, dando-lhes o nome de “Dança do Ventre”. Depois, com a Revolução Industrial, a globalização, as migrações e as Grandes Exposições Mundiais, surgiram os primeiros bailarinos na Europa e América que muito atraíram a atenção pelo seu exotismo.

Na primeira metade do século XX surgem bailarinas em famosos filmes egípcios que se inspiram em Hollywood e nas danças do ocidente, como clássico, latinas e flamenco, estilizando o que é hoje chamado em árabe – Raqs Sharqui -, que significa dança do oriente. Também na Turquia, depois da queda do Império Otomano, fica a dança, a música e poesia dos palácios, que se fundem com as tradições dum povo multicultural, nomeadamente os Romani (Cigana Turca) e o Arabesk Greco, levando ao Gobek Dans ou Oyantal turco de hoje em dia. Desde aí é que a Dança Oriental tem evoluído imenso e se popularizado por todo o mundo. É uma marca cultural, nomeadamente na sua “Meca” – Cairo –, apesar de que ainda marginalizada, e também nalguns países árabes e na Turquia.

A Dança Oriental distingue-se pelos seus movimentos sinuosos e ondulatórios, contrastando com outros mais energéticos, secos e vibrantes. Surpreende pela sua técnica exigente, expressão corporal completa e minuciosa, estética exótica e exuberante e a invocação à beleza natural humana. É uma dança que exige perfeita interpretação dos instrumentos, como se o corpo do bailarino ilustrasse todos os instrumentos da música que expressa em simultâneo. Esta arte tem também forte carga emocional, lírica e até espiritual, além dum enorme virtuosismo físico.

Quais são as tuas principais influências ou inspirações?

Humm… as minhas inspirações são infinitas, no sentido que surgem de acordo com a minha maturidade intelectual no passar dos anos. E, como aspirante a artista plástica que deixou a vontade de ser arquitecta para ser bailarina, as minhas referências e fontes de criatividade são muito eclécticas. Nas minhas aulas até costumo dar exemplos ilustrativos e é mais fácil para mim materializar a dança como se de uma pintura se tratasse, mas sempre com um respeito pela anatomia humana e legado cultural do que represento, como um arquitecto devia ter. Também sou um ser humano de grande consciência política, pelo menos tento ter, então a dança para mim não é só expressão… é mensagem! A Arte em geral é partilha. Através da Dança não afirmo apenas a sua fruição estética mas também defendo valores de igualdade, tento quebrar preconceitos e educar as pessoas sobre diferentes culturas. Por isso, tenho a certeza que os nomes que vou indicar têm forte influência nas minhas escolhas e forma de criar e expressar, quer nos espectáculos, quer a dar aulas. Na literatura nomeio Stephen King, Noam Chomsky, Edward Said, Adalberto Alves. Em relação à música sempre fui muito sensível e é quase “um bem essencial” para mim, tenho um vasto background no Rock, Punk/Hardcore, Metal e Hip Hop, desde que seja mais cru e virtuoso e não apenas comercial com mensagens e imagens fúteis. Actualmente ouço muito mais música do mundo, nomeadamente clássica árabe, turca e persa/iraniana. E vou deixar soltar mais nomes: Radiohead, Dead Can Dance, Tchaikovsky, Oum Kalthoum, Mohamed Abdel Wahab, Alim Qasimov, Omar Faruk Tekbilek; John Bilezikjian, Hossam Ramzy, Carlos Paredes, Picasso, Pollock, Salvador Dali, Rita Hayworth, Frank Lloyd Wright e os bailarinos Tahia Karioka, Samia Gamal, Mona El Said, Mahmoud Reda, Cyd Charisse, Pina Bausch. Inspiro-me mais em pinturas, no Palácio Topkapi, nas Pirâmides de Gizé, nas estórias populares, nos tapetes, nos bazares, nos mercados, nas especiarias, nos perfumes, em paisagens… gosto de saber como as coisas se fazem e como pensam e se sentem as pessoas que as fazem.

A Arte em geral é partilha

Destaques do percurso artístico e criativo

Eu valorizo momentos por vezes mais íntimos, contudo devo referir que foram pontos altos dançar nos grandes festivais de música MED em Loulé e FMMSines em Portugal, como nos Festivais Internacionais de Dança Oriental Ahlan Wa Sahlan no Egipto, Rakkas Istanbul na Turquia e Ishtar Congress no Dubai. Antes viajava a alguns desses países para ter formação com professores locais, e actualmente já sou convidada a actuar e dar aulas nesses eventos. Foi um grande passo! Outro momento inesquecível foi quando dancei na Passagem de Ano 2015/16 em Marrocos no mítico Dar El Salam em Marrakech. Foi uma noite mágica! Todas as oportunidades que tive de dançar com música ao vivo foram as melhores. Bons músicos é outra loiça! Por fim, em 2019, o meu espectáculo de comemoração de 10 anos de ensino no Concelho de Mafra que, apesar de simples (pois não consigo fazer grandes produções com os meios que tenho e me disponibilizam), teve um significado especial com a participação de alunas que me acompanham há vários anos.

 

Em que projectos estás a trabalhar?

Estou a trabalhar mais na minha presença online e na divulgação da Dança Oriental, não só na minha área de residência, mas agora também no Mundo, por ter começado a vingar internacionalmente. Além disso, tenho imensos novos actos para criar e melhorar que serão apresentados em festivais e eventos internacionais. Coincide ter decidido dedicar a isto este ano, quando surge a situação actual da pandemia que, apesar de estar a prejudicar a maioria das pessoas, e eu não sou excepção pois estou basicamente sem trabalho e rendimento além das aulas online, vejo como uma oportunidade forçada para desenvolver e melhorar a minha marca digital.

Objectivos a médio e longo prazo

Repentinamente tudo mudou e ficou incerto com a pandemia que vivemos. No entanto, penso que apenas tenho que adiar os meus projectos e objectivos. Sou extremamente focada e decidida ao ponto de poder ficar meses e anos a trabalhar, abdicando e sacrificando muitas coisas, para atingir um objectivo. Eu não tenho sonhos, tenho metas! Um dos meus grandes planos é continuar a divulgar, desmistificar e dignificar a Dança Oriental na minha comunidade. Quero criar espectáculos e proporcionar modelos de ensino com a máxima excelência possível. Segundo, e bastante ambicioso, é produzir ou fazer parte de espectáculos a solo de maior produção cénica com música ao vivo, músicos escolhidos por mim a dedo, cenário e corpo de baile nas maiores salas do país e quiçá lá fora. Esta Dança, e toda a arte que a envolve, é demasiado bonita e sofisticada para ser marginalizada socialmente, muitas vezes devido à vulgaridade das músicas e de algumas bailarinas que a praticam. Pretendo elevá-la e levá-la e mais pessoas! Por fim, quero continuar a poder viajar para dançar nos países que melhor compreendem e acarinham esta dança e trazer esse amor para cá, continuar a ter formação com os meus professores de lá e passar mais tempo a vivenciar e estudar as culturas que contextualizam a minha arte. Em 2019, organizei a minha primeira viagem personalizada para bailarinos, alunos e entusiastas de Dança Oriental a Istanbul e espero conseguir continuar esse projecto nos próximos anos, nomeadamente nessa cidade e no Cairo. Já tinha programada uma viagem ao Egipto para 2021… vamos ver como corre!

Sou extremamente focada e decidida

Estas áreas criativas são a tua profissão?

Sou Bailarina, Coreógrafa e Professora de Dança Oriental, Dança Criativa e Danças do Mundo. Também trabalho como designer gráfica e faço produção de pequenos eventos e espectáculos.